terça-feira, 3 de agosto de 2010

Sobre um adeus

Quando te foste


Estou que não sinto, que não vejo,
estou que não tenho
a pujança da adolescência,
o desbravar de mares
que se me diz irrompe a todos
indistintamente.

Cheguei até aqui repleto
de sonhos,
de amores,
de ingenuidade.
E a espontaneidade doutros dias
foi-se enfraquecendo,
enfraquecendo,
morreu.

Foi que se esvaiu em mim
um suave fôlego,
um leve sopro quente
de alegrias e esperança...
este que nem tu,
ó mais perfeita de todas as mulheres,
soubeste fazer retornar.

E eu retomo meu mundo,
mulher,
recobro a tristeza
que conheceste,
a timorata presença de luz
de meus olhos que mal
vislumbrava o caminhar.
Perdi qualquer coisa como a vida
e estancou-se-me no peito
o sorriso:
já não corre solto e ligeiro,
não mais flui ligeiro e bonito,
não mais terno e acolhedor.

E neste momento de
estranha reverência,
em que ao perder-te sou trevas,
sou morte, sou sofrer,
eu sinto na leveza o peso
de deixar-te ir embora
sem lutar, sem soltar as
lágrimas para veres
que sofro
por jamais, jamais
ter podido te amar.

De Fabiano Medeiros (1988)

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