sábado, 31 de outubro de 2009

31 de outubro

Pelos que sempre amaram o Evangelho
e o trouxeram até nós.
Pelo amor às Escrituras Sagradas,
por não calarem da alma a voz.

Pela graça infinita
que de graça nos abraça.
Pelo amor que se derrama
que o tempo não apaga.

Por cada homem e mulher
que, em real devoção,
dobraram seus joelhos,
não calaram o coração.

Graças te damos ó Deus
pela fé e compreensão
de que és real e sentido,
não apenas por emoção.

Graças te damos ó Deus
pela consciência sempre viva,
que não importa a época
mantêm nossa fé consciente e ativa.

Poema integrante do livro Caixa de Versos de Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo, edição do autor, São Paulo,SP: 2009

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

No encalço de um sonho
















No encalço de um sonho

Percorro a essência da vida
Como quem percorre uma estrada,
Um caminho,
Ou uma calçada,
Toda ladeada de flores de rosmaninho.

Danço como as folhas
Sopradas pelo vento.

Dou largas à imaginação,
E ao pensamento.

Viajo nas asas de um sonho
Pleno de realidade
E vou-me daqui,
Para perto de Ti.

Florbela Ribeiro

Ceia

Colher o trigo,
fazer do trigo farinha.
Tirar do trigo a força do pão.
Fortalecer-se com o pão.

Colher a uva,
separar do cacho toda uva.
Tirar da uva o vigor do vinho
Fortalecer-se com o vinho

Assentar-se à mesa.
Farta-se da ceia na mesa.
Eucaristia, santa comunhão.
Tomemos o vinho e o pão.

Poema integrante do livro Caixa de Versos de Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo, edição do autor, São Paulo,SP: 2009

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Por que temes?

Tela: Night - after Millet, de Van Gogh


Por que temes o mal? Ele é inevitável.
Desprezas o bem que bate á tua porta,
Espantas o amor que, paciente, espera
Que então atendas a uma só palavra.

Por que temes o bem? Achas insustentável
Que a paz não te deixe nem por um momento?
Amas a tua dor, desejas sofrimento,
Buscas o tormento e assim te julgas bom.

Não temes o flagelo das horas perdidas,
Todas as mentiras que animam teu medo.
Guardas teus segredos como vãos tesouros,
Escórias do ouro, tolo proceder.
Quem és tu que temes a própria verdade,
Expulsa dos teus dias tão em esperança?
Quem te fez escravo desta insanidade,
Qual merecedor dos males deste mundo?

Não será a dor o que te justifica,
Não será o medo o que tanto te humilha,
Nem a solidão a razão do teu pranto,
Nem obsessão a tua armadilha.
Tu mesmo armaste a rede aos teus passos,
Pássaro cruel que mutilou tuas asas
Para não poderes voar até os montes
De onde se vislumbra tão de perto o céu.

O céu que rejeitas jamais te feriu,
E as nuvens que vês são para o teu deleite,
Mas em tua loucura não crês que te aceite
O Senhor que te criou e te deu vida.
Não contemples mais a tua vã ferida,
Recebe o bálsamo, está á tua mão.
Ele te estende a destra e o auxílio,
Com amor te chama, e com compaixão.

Temerás também Sua misericórdia?
Te esconderás na tua vaidade?
Ou enfim darás a chance à verdade
De te transformares de algoz em redimido?

Espero que não temas te veres perdido,
Porque, afinal, por Deus tu foste achado,
Fraco, desprezado, inútil, oprimido,
Um trapo de gente, alguém sem serventia.


Mas quem O conhece como Deus de amor
Enfim se percebe que nasce de novo,
Que não mais importa tudo que passou,
Que é envolvente a paz que te domina.
Temerás então deixar Sua palavra,
Te recolherás aos braços do Pastor,
E esquecerás que um dia foste nada,
E hoje és para sempre alvo do Seu amor.

Marco di Silvanni

Via http://portodopoente.blogspot.com/

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Dois poemas de Florbela Ribeiro

Alma azul

Refresco a minha alma
No silêncio calmo
Do entardecer perfumado
E enfeito-a com
Pinceladas de azul
E andorinhas de papel.
Enquanto Tu
Que do alto me miras
E olhas por mim,
Vens e restauras
Suavemente
Aquela doce paz
Que por breves instantes
Me abandonou.


Indagar

Não estou presente
Nem ausente
Apenas quieta
Para indagar a voz
Que ecoa por entre
Os silêncios.
E assim perceber
Claramente
O que Ele
Pretende de mim.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ECCE POIEMA

Anunciação do anjo a Zacarias (ícone russo)


"Mas como não acreditaste no que te disse, vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que isso acontecer, pois tudo se realizará no tempo devido.”
Evangelho de Lucas 1:20 (versão A Bíblia para todos, p. 2044)


Para mãos que trabalham
sem uma língua treinada
o silêncio pode ser de ouro
ou de chumbo maciço

Porém, esse silêncio ainda fala
ainda está cheio de poemas, cânticos
confessa apreensões ou revela sonhos
da dentro da linfa, das cavidades do osso

Voz que duvida, que fala do que não sabe
que com as mãos se queda a queimar incenso
a vigiar que a chama da menorah perene arda
a oferecer os pães

que escreve febril o que o silêncio apenas sussurr
ao que a voz na laringe emudece

Que te diz e conta, Zacarias, a voz que te secou?
Voz que guarda e
burila a sabedoria
que decanta os segredos
confiados pelo anjo do Senhor
esculpidos no ventre da tua mulher
afinados em outra voz, a que clamará no deserto

Mas quanto melhor
não é,
como numa salva de prata uma maçã de ouro servida
é a voz irrompendo
finalmente instruída e madura
que fala
e canta os altos louvores do Senhor!

22/10/09

Originalmente publicado em Papéis na gaveta, por gentileza do poeta J. T. Parreira

Pois os céus são os céus do Senhor

Obra de Beatriz Milhazes, fotografada no Museu
de Arte Contemporânea de Niterói - Uso liberado

Mais imagens livres em


deito-me do alto da serpente,
qual quem tange a cítara do sol
dedilho as sensações
da queda

entôo salmos, em alumbramento
finco minhas mãos
à Mão da Rocha

caio célere olhos destros centrados
nos sinistros e furibundos olhos da sErpeNtE
que os atém ao alto, amaldiçoando
em língua bífida
o milagre que me permite
à morte em seu dorso

d e b a n d a r

olha o céu que a esmigalha por dentro
odiosa desta sutil estranha maravilha
que me faz cair para cima

ao longe vejo O Calcanhar
ainda pisar-lhe a cabeça,
eu municiado com o sorriso em
lâminas de luzes
que Cristo plantou em meu rosto,


rosa voltaica que a horroriza.


Sammis Reachers

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

CONVITE

Contudo não quereis vir a mim para terdes vida (João 5.39)

Francisco Luiz Flor dos Santos
Com Vida.
Valdélia Pereira dos Santos
Com Vida.
Francisco Luiz Flor dos Santos Junior
Com Vida.
Luiz Marcos Flor dos Santos
Com Vida.
Luiz Miguel Flor dos Santos
Com Vida.
Joaquim José Vieira
Com Vida.
Lourdes Vieira
Com Vida.
Jesus de Nazaré Salvador do mundo
Convida: Não quereis vir a mim para
Terdes vida?

Autoria: Luiz Flor dos Santos, pastor na cidade de São Gonçalo do Amarante, Ceará na Igreja Batista Fundamentalista Cristo é Vida.

CONHEÇA OS BLOGS DO PASTOR LUIZ FLOR:
www.pulpito.blog.terra.com.br
www.poesiadegraca.blogspot.com

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Olhar os lírios do campo


Aqui nos lírios do campo
e quanto campo, ondula
o vento às cores, um mar
inquieto, um mar
dentro da terra

De cá para lá, vai vem
de caules e corolas

Aqui estarão meus olhos
lavrando
como um barco.


J.T.Parreira

domingo, 18 de outubro de 2009

FERIDA


FERIDA

“Espera-O uma coroa de espinhos
Para secar o sangue sobre a fronte, espera-o
a fome de um chicote
que as costas lhe há-de devorar”
J. T. Parreira, “No Jardim do Gêtsemani”

A fome batia uma litania
vai e vem sobre o dorso como tambor

O látego batia em sintonia
com a contagem ritmada
da voz do decurião
uma, duas, três, até quarenta
e com os gritos
de dor do condenado

E latejava as nossas cabeças
dentro de cada dentada das fauces
do chicote estampido vai e vem

Acirrámos os dentes
em aprovação do castigo
e dos gritos do condenado
as costas devoradas
as gotas de sangue salientes
eram o nosso prazer e satírico canto

Mas não deixávamos de pensar
que a obra do carrasco
devia ficar na discrição
recôndita duma caserna romana
longe da vista e do coração
e ensaiámos apartar o olhar
desviá-lo do esbatimento do seu rosto
em busca da geometria da dança
de um bando de pássaros que por ali voasse
ou admirar as coríntias colunatas do pátio
onde decorria o evento

Mais tarde esperava-o uma coroa
sobre a cabeça de espinhos
para o sangue na fronte lhe secar

E escorria das nossas cabeças

E depois ainda
esperava-o ser fixado na cruz
poucos de nós ficaram para ver
preferimos meter-nos pelas cruzes das ruas
pés apressados para o recolhimento e a piedade
pois esperava-nos a Peschah em casa
ao lume do assado do cordeiro,
o único a quem hoje se devia secar o sangue

Mas o vai e vem do flagelo batia em nós
e a voz de comando do decurião e os gritos de dor
o sangue porfiava em correr de nós
como mulheres nos dias da impureza
os panos não o estancavam
banhámo-nos mas a água
solidária tingia-se de escarlate

O chicote a coroa a voz do decurião e o sangue éramos nós
o que tínhamos nós com esse contumaz blasfemo
de rosto deformado condenado?

Caímos no chão

Éramos nós os condenados
de costas devoradas e frontes sangradas
à beira do vale onde a morte se dissimula de sombra

Por fim acordámos

Esse sangue
penetrava-nos até aos corações
e corria agora neles
lavados

Rui Miguel Duarte 17/10/09

originalmente publicado em Papéis na gaveta

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Silêncio

Feche os olhos.
Tente ouvir a voz,
voz do silêncio.

Silêncio.
Ele fala mais,
muito mais
que qualquer som,
que qualquer música.

Silêncio.
Voz de Deus,
do coração dele,
para a nossa alma.

Poema integrante do livro Caixa de Versos de Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo, edição do autor, São Paulo,SP: 2009

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

PASSOS


Provérbios 20:24 “os passos do homem são dirigidos pelo Senhor; o homem, pois, como entenderá o seu caminho?”

nem sempre sou confortado pela vara e pelo cajado
olho em redor
em vão
não estás.

o pastor toca com a vara e empurra a ovelha
gentilmente
na direcção que ele requer
assim me guias ou guiavas,
ou pensava que me guiavas
mas deixei de ver
a brilhar nas sombras
ou descansando sob uma árvore
enquanto eu me regalava no verde

mas o pastor nem sempre está
as nuvens negras cobrem-no
com o aguaceiro e a trovoada
certamente não virá
a buscar a ovelha perdida
e só

a apreensão engole-me
com dentes e uivo de lobo

até que me lembrei de algo que li:
entenderá o homem o seu caminho?
é o Senhor quem dirige os seus passos
mesmo na ignorância do homem

eis que o pastor
contra a mente turvada da ovelha
dispôs no chão uns marcos umas pedrinhas

regularmente
numa certa direcção
como as contas do colar de Ariadne
ensinam os passos à ovelha
para a liberdade do labirinto
e do vale da sombra do Minotauro

Rui Miguel Duarte
Herserange 13/10/09
publicado igualmente em A Ovelha Perdida e Neaktisis

Podcast

Atendendo ao pedido do Sammis, mas só em partes, estou disponibilizando o link para o meu Podcast, onde declamo poesias deste blog:
Está no ar a Edição #7(out/2009) do meu podcast!

3 GIRASSÓIS

3 poemas inspirados na obra missionária


.








SUDÃO


Abrem-se de par em par
as portas da Igreja-Casa-Coração:
Descalços sobre os seixos,
os 22 sudaneses adentram
ao porto de Cristo,
que é seu e é aquecido.

Ao Gracioso Trono
suas orações evolam-se,
mística circunvolução
que ao fim de seu circuito
lhes concede corações e ossos
encouraçados contra o vil falseio
da heresia e da fome,
das perseguições e mandigas
dos marabus¹...

Fora das portas,
contradizente, estático e célere
o deserto lhes circunda:

Morra doravante o deserto,
deles (hoje, para S E M P R E)
fluem "rios de águas vivas"


¹Lider religioso comum na África islâmica, espécie de 'pai-de-santo'
local, expoente do sincretismo entre o Islã e crenças animistas.

² João 7:38




JAPÃO

Nada de espadas. A Tokarev¹
_______________ _ _Sim sim sim ainda atira
ela há de atirar
___________ _ _As crianças a dívida
e ele já a empunhava, alisava
_________________ _ SUSPEITO DE ALTA TRAIÇÃO __________________________ _cabeçalho dos jornais as crianças
o dedo bicava o gatilho ele já vencia o medo
___________ _ _ Morrer morrer só me resta morrer a ______________________ _ discussão os gritos de Yukio o stress
mas então uma lembrança (de onde vinda?),
_ _os acionistas o ministro todos esperam que eu me mate
uma equação: O bolso + a mão + o toque = um reles(?)
papel


o folheto que aquele canadense lhe dera:

"Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida.
Quem crê em mim, ainda que esteja morto,

Viverá; e todo aquele que vive e crê em mim

Nunca morrerá. Crês tu isto?"
²

(Um insight, uma arma deposta um libertar)

Pois ele creu.


¹ Pistola russa
²João 11:25,26




.








AFEGANISTÃO


O injil¹
(tão raro por aqui, tão impossível) o injil
seu pai queimou o injil
na sexta seus parentes se reuniram
seu irmão lhe denunciou
o livro, o livro, ele tinha o livro!
O muezim² decidiu pelo castigo a vila o povo
o povo cego surdo mudo o muezim
decidiu o muezim decide o muezim cego guiando
cego

O cortejo cego segue, dá à porta da casa
preparam-se para linchá-lo.
E você se angustia e eu me angustio mas ele...
Com um sorriso de ave e de anjo
(tão raro por aqui, tão impossível),
Mohammad ibn Ali lança-se para fora:

"Eu venci o mundo." ³

¹ O Novo Testamento
²Chefe religioso local, no Islã
³João 16:33

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ESCUDO DA FÉ (AOS EFÉSIOS 6:16)


Conta o poeta Arquíloco que em certo dia de áspera peleja
largou o escudo em terra
e correu e correu
e ficou a vê-lo nas mãos de uns brutos
que o miravam e remiravam e giravam nas mãos grotescas
essa bela peça de topo de gama
de tecnologia de ponta
do armamento táctico-defensivo
e os ombros encolhidos da vergonha logo se expandiram
em risos de desprezo:
– Quero lá saber! Posso comprar outro pelo mesmo preço.
A cobardia vestiu-se de prosápia!

O poeta Horácio ao que parece
repetiu o gesto do seu mestre
em outro dia de rude luta.

Com quem queres aprender, soldado?
Porque soldado és
Vais ficar sentado no simpósio do sofá
e mergulhar
os olhos
e o nariz
em copos de cerveja
mordiscar tremoços
e ver a bola?
Ou como certo dia o poeta e rei David
debruçado do despreparo da varanda
a contemplar e contornar as famosas e formosas
curvas da mulher do vizinho?

É-te pesado o escudo? Não és digno de portar o estandarte
nem de calçar
as botas cardadas de soldado
que possuem o território inimigo com a palavra da paz.

Deixas o escudo no chão sobre os estilhaços e sangue dos teus camaradas?
Ou em casa, num canto secreto
do sótão escuro da infância
e do medo?

Viras o dorso às goelas rugidoras do leão?

Enquanto lá fora ferve o furacão?

A guerra, soldado, está aí
bate-te à porta com manápula de ferro.

Qual incêndio florestal
mais voraz
do que o abismo chega à tua tenda.
Não sabes que a seta do inimigo te perfurará
a cota de malha
e a tua carne à lâmina
será manteiga?
Julgas que fugirás?

Como ao dia claro se sucede
o arcano da noite
a guerra obrigatória vem.

O teu peito nu
inchado de prosápia ou tolhido de cobardia
estalará
e pela fenda o coração ser-te-á
roubado, soldado,
e com ele as saídas da vida.

Não há fronteira
nem rio outra margem
para onde mires o salto.

A guerra vem.

Que general e que exemplo seguirás?

Mira as mães da Lacedemónia
que ao retirarem cuidadosamente
os escudos do prego na parede
onde se cansavam de estar pendurados
os entregavam aos maridos e filhos
na despedida para a guerra
com alma de leoas
sem um beijo nem uma carícia
nem com voz de lã
severíssimas:
– Volta com ele ou sobre ele!

Toma, soldado, na mão
o escudo da fé
pés no chão
corrida contra o inimigo
vai e volta
não sem ele nem sobre ele
mas com ele.


Rui Miguel Duarte
Herserange (França) 11/10/09
publicado igualmente em A Ovelha Perdida e Neaktisis

domingo, 11 de outubro de 2009

POEMA DE DEUS

αὐτοῦ γάρ ἐσμεν ποίημα, κτισθέντες ἐν Χριστῷ Ἰησοῦ ἐπὶ ἔργοις ἀγαθοῖς οἷς προητοίμασεν ὁ θεὸς ἵνα ἐν αὐτοῖς περιπατήσωμεν.
“É que somos obra de arte, poema de Deus. Ele criou-nos em Cristo Jesus para produzirmos boas obras, as quais que Ele de antemão preparara para nelas vivermos e nos movermos.”
Paulo, Carta aos Efésios 2:10


Sou um poema de Deus
manufacturado de palavra e terra
coroado de sol
de resplendor de aurora

No chão a tua mão pouso não achou
do vermelho barro que colheste
moldaste os meus rins
os meus ossos enrijeceste
vaso que
de água e sangue encheste

Do rude filão apartaste a ganga
e no lume
de milhares de sóis purificaste
o ouro da minha carne

À minha pele
não são ignotas a plaina
nem aos meus braços
a talha a martelo e escopro
o meu rosto
marchetado
de finas e várias peças de escultura
mais preciosas que mármore

no fundo da caverna da gestação
à massa bruta entreteceste
textura
partes órgãos funções
um coração que estremece e chora
olhos que vêem nariz que cheira mãos que apalpam
boca que fala
não um pedaço de madeira esculpida por um Gepeto
a quem uma fada deu vida

mais muito mais

em minhas narinas sopraste
e os meus pulmões respiraste
o sopro que é agora
a minha voz
que respira fala e profetiza e diz o poema

precisamente como tu

sou criação tua
poema teu
deste-me a tua palavra
e a tua arte
fizeste-me mundo e criação
filigrana de galáxias
nas raias do infinito
estertor de supernovas
expansão de nebulosas
sóis e planetas
asteróides e cometas
sistemas estelares e satélites
quasares e pulsares

fizeste-me mundo terra azul
crespidão de montes
explosão de vulcões
separação de terra e águas
rios de vales fendentes
árvores elevadas contra o vento
flores que ateiam cores e perfumes
do mar pleno o rugido
luares e canções
florestas e falésias
concerto de violino e risos de criança
semente caule e fruto

fizeste-me como tu
poeta

e assim mundo
com outros mundos universos paralelos
com outros poemas
transformados em poetas
e pintores e arquitectos
de mãos dadas
e vozes geminadas
faremos de toda a terra a obra que quiseste

a obra que preparaste
– eis aí a seara pronta para a ceifa


Rui Miguel Duarte (Herserange, França, 10 de Outubro de 2009)

PEDRAS

Acordei certo dia
Ainda meio tonto
E os olhos foram-se
Abrindo aos poucos

Senti certo inchaço
E pela resta de um dos olhos
Vi espalhado ao meu redor
Muitas pedras. De variados tamanhos.

Em um dos lados as pedras
Traziam inscrições.
E no outro, mancha de sangue.
Todas dedicadas a mim.

A primeira que consegui ler
Continha: essa foi lançada
Pelas palavras duras
Que você proferiu!

Uma segunda: pelas promessas
Inúmeras que fizeste
E não as cumpriste.
Ou não cumpriste satisfatoriamente!

Uma próxima: foi te lançada essa
Só pra ver-te cair
Do alto de tua postura
De extremada autoconfiança!

Numas estavam inscrito: Essas são apenas
Em devolução às pedras
Que você lançou aos outros
Lembra-te?

Essas, dizia a inscrição: são para lembrar-te
De tuas incontáveis ingratidões
Por não reconhecer, não agradecer
As bondades feitas a ti.

Essa te foi arremessada
Por tuas mentiras quando
Dizias te farias sempre presente.
Mas quando te procurei, onde estavas?

(Uma grande e pesada): Arremessamos essa em nome de Deus
Pelas vezes que disseste ter fé e depois recuar
Nos momentos difíceis.
(Mas Deus não mandou aos tais fazerem isso).

Muitas que foram arremessadas tinham a inscrição:
Lançadas em devolução
Às que você arremessou
Em outros, teus iguais

Umas tantas continham: Essas são pelos julgamentos
Prévios. Apressados. Sem provas
Sem tempo de investigação
Sem amor que fizeste contra outros, teus iguais.

Noutro monte algumas continham a inscrição:
Por agires e pensares como se a aplicação
Da lei eliminasse a necessidade
De amor e misericórdia.

Essas tantas foram arremessadas contra ti
Só porque vimos outros te fazendo de alvo.
Achamos que merecias o que estavas sofrendo.
Merecias a sorte que estavam te dando.

Ainda assim meio tonto
Tentando me livrar dos montões.
Empurrando com os pés.
Empurrando com as mãos.

Ouvi uma voz suave
Firme, acolhedora. De absolvição:
Eu não te condeno.
Vai e não peques mais.

Perguntei de quem se tratava
E me disse ainda suavemente:
Sou Jesus teu salvador
O que sara as tuas feridas.

Autoria: Luiz Flor dos Santos, pastor na cidade de São Gonçalo do Amarante, Ceará na Igreja Batista Fundamentalista Cristo é Vida.

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sábado, 10 de outubro de 2009

MEDITAÇÃO SOBRE O SALMO 133

Ah querido irmão
Nada é mais doce
Do que as tépidas manhãs
Que amaciam as gotas do orvalho
Sim do orvalho de Hermon

Nada mais delicioso
Do que o nacarado óleo
Que desliza pela barba
O óleo da constrição do fruto da oliveira

Nos nossos conclaves, irmão
Há o mel dos abraços
E o sal dos risos
O veludo dos cantos
Entoados em conjunto
E o sol pleno das nossas danças

Ah somos Aarão de de barba luzente
E irmãos do orvalho

Eia! Que nestes conclaves
Está o Irmão mais velho
Ele próprio do seu frasco
Derrama sobre nós o perfume
O mesmo que lhe ungiu os pés

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

verdade conveniente




Maio de 2008

As árvores já têm copas de lava
de tão violentadas as águas do rio
exibem fissuras nos dedos
os ursos polares têm calor em pouco gelo
ao sol.

O que antes foram cedros e figueiras e abetos
não são hoje cardos?
E não pode a água fluir límpida
da boca do ventre?
Cessarem os sacrifícios de canários em minas de carvão?
Não basta o sangue de um só para lavar as suas entranhas?

Tirar o cinto que garroteia as nuvens
e retêm os mananciais na esponja e a luz
a rega precoce e tardia que fala e beija a terra
e alimenta com a profecia os chacais e as avestruzes
as bestas selvagens do ermo?

Vamos, filhos do Rei, que não é a hora de a rocha
emanar a lava, mas de estancar o vómito aos vulcões!
Manifestai a vossa glória de príncipes!
É a hora de plantar os lírios e colher o vetusto jardim
de deixar que os ossos enterrados sejam as raízes
da árvore da vida.
De rasgar no deserto a via por onde passarão os exércitos!
De fazer brotar o rio das ânsias de parto do pesadelo!

(27/05/08 Após ver o filme An inconvenient truth e correr a ler Paulo, Carta aos Romanos 8:19 “Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus.”)

Na Gaza dos Filisteus

(por ocasião de (mais) uma guerra israelo-árabe em Gaza)
Janeiro de 2009


A mão que golpeia a ilharga é a mesma que estilhaça o crânio.

Dispõe a pedra na funda a sombra de Golias
E lança-a…
Efraim riposta com a catapulta
Jacob arremete em cheio com a espada.

De Gaza os filhos de Ismael gritam em fúria
e dos pulmões jorra o sangue
as pedras voam.
Os filhos de Isaac soltam as matilhas de molossos.

A pedra que golpeia a ilharga, a espada que estilhaça o crânio
em arremetidas repetidas, uma e mais uma e outra ainda, até milhares de fragmentos
que tingem o mar de escarlate e cinza
pois é impossível escapar por terra, para o deserto, para lá dos montes:
há o muro, um bando de leões de dentes de aço no caminho. A porta fechada na cara da urgência e do pânico.

Os filhos de Abraão
lutam por um lugar entre as estrelas do céu
que seu pai contemplou e contou.
Mas só restam os crânios rolados na praia, o sangue a excrescer da pele da fronte.

A PEDRA

Génesis 28:18-19 "… tomou a pedra que pusera debaixo da cabeça, e a pôs como coluna; e derramou-lhe azeite em cima. E chamou aquele lugar «Betel»".

Numa curva de caminho
Onde o sol se deitou
Encostado a uma rocha
Tomei uma pedra
Dardejada do céu
E sobre ela me desfiz do turbante

Sobre a cabeça pendem-me as estrelas
A minha alma firma os pés na escadaria
E empreende o caminho
Por onde os anjos sobem
Com o suor da minha voz
E descem com a palavra da tua boca
O sonho transpõe o limiar dos meus olhos dormentes

E o que tenho é esta pedra
Que os meus cabelos e barba poliram
Vinda e visita do céu
Para ele a erijo
A levanto da terra
Sobre ela libo o azeite
E é a coluna e cornija da Casa do céu e de Deus
A fundação da casa

Onde tu e eu viveremos

A pedra onde descansei
Foi a pedra com que celebrei
Aquém das nuvens o encontro com a presença
Daquele que além delas estabeleceu o seu trono
Imanente

Agora sei quem és
Reconheço que estás aqui
Que aonde quer que eu vá
Para todos os pontos cardeais
A tua asa é a minha tenda
E esta se alargará para além da vista
Da terra e das gerações dos meus lombos
De imensidão de pó

Eis o meu Deus de todas as curvas e rectas do caminho
De todos os caminhos

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sejam bem vindos

Sejam bem vindos.
Esta casa é casa de amigo.
Amigo, mais chegado que irmão.
Casa de louvor e adoração.
Casa de amor e gratidão.
Casa onde a verdade reina.
Sejam bem vindos a esta casa:
Casa de Deus!

Poema integrante do livro Caixa de Versos de Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo, edição do autor, São Paulo,SP: 2009

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O primeiro, o último louco

Foi como se ELE dissesse,
"O conhecimento do bem e do mal
pode vir a ser a com que tu cavarás
tua própria cova
e a de tudo o mais que sair de ti."

E o pai Adão,
com os seus
(incólumes & resplendentes & alvacentos &) próprios

d e n t e s

a empunhou.

Sammis Reachers

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Perdoados

Apesar de tantos erros e tropeços.
Apesar de tanta amargura e ressentimento.
Apesar de tudo de ruim que vivemos até agora.
Apesar de tudo isto, podemos nos alegrar.

Somos direcionados, sim, pela vontade de Deus.
Somos renovados, sim, pelo Espírito Santo.
Somos perdoados, sim, pelo sangue de Jesus Cristo.
Alegria! Tudo se faz novo em nossa vida!

Poema integrante do livro Caixa de Versos de Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo, edição do autor, São Paulo,SP: 2009

Poemas do Cativeiro (Salmo 137)

*

Amados leitores, abaixo publicamos quatro poemas de quatro diferentes autores, que tem como tema a mesma passagem bíblica (Salmo 137), e o relato do cativeiro de Israel na Babilônia .


CATIVEIRO

à sombra do Salmo 137

As harpas nos salgueiros
estavam penduradas
e canto não existia

só lágrimas
só sonhos
repletos de alvoradas

esperança pelo Messias

Jerusalém!
eu choro saudades d’ Israel
oh! terra da Promessa
lugar de leite
e mel

o povo estava triste
junto aos rios da Babilónia
cativo
em terra estranha
e quando se assentava lembrando Sião
não podia cantar
qualquer canção

Jerusalém!
Eu choro saudades d’Israel
oh! terra da Promessa
lugar de leite
e mel.

Brissos Lino


O Salmo da Solidão

Junto às torrentes frescas assentados,
cativos, tristes, pobres e humilhados
e sem vislumbre de consolação,

na Babilônia, muita vez choramos
quando, cheios de angústia, nos lembramos
das glórias fascinantes de Sião.

Nossas harpas estavam desprezadas,
nos ramos dos salgueiros penduradas,
mudas, sem vibração, quietas e sós,

porque os soluços da tristeza infinda
e os dolorosos ais de certo ainda
enchiam de temor a nossa voz.

Aqueles que cativos nos levaram
e as nossas tendas logo derrubaram,
sem reparar a nossa humilhação,

para afligir-nos ainda mais, pediam
que cantássemos e eles ouviriam
os salmos e as cantigas de Sião.

Como, porém, podíamos, um dia,
mudar nossa tristeza em alegria
e transformar em riso a nossa dor?

Mas inda assim, exaustos e abatidos,
amamos nossos íntimos gemidos
e, humildes, bendizemos o Senhor.

Jonathas Braga
Do livro A Maravilhosa Luz



Saudade, Op. 137

Alguém nos exilou as liras.

Junto aos canais da Babilónia
trazia o vento familiares
cheiros do país fechado.

Pediam que fossemos ao fundo
dos objectos mais queridos
desarrumar a alegria,
aqueles que nos tinham oprimido
dos nossos soluços queriam
que o cântico de Sião
fosse inventado.

Mas alguém exilou as nossas harpas
desiludidas nos salgueiros,
como tirar das coisas deste mundo
um cântico ao Senhor?

Só o vento se inclinava
sobre as liras penduradas.

João Tomaz Parreira



Cânticos de Sião

Sentados na beira do rio
Da famosa Babilônia,
Os filhos de Israel choravam
Nas longas noites de insônia,
Pois se haviam afastado
Dos estatutos do Senhor,
Roubaram, foram injustos,
Seus corações sem amor!
Ah! As palavras dos profetas
Foram todas esquecidas,
Por isso agora são prisioneiros
Com mãos e almas feridas.
Diziam os babilônios:
“Cantem os cantos de Sião”
Ao vê-los tristonhos, saudosos,
A amassar barro no chão.
Se a sua dor é tão grande
E a saudade é verdadeira,
“Como cantar a canção
Do Eterno em terra estrangeira?”
Como esquecer poderiam
As glórias de Jerusalém
E o que edomitas fizeram
Para arrasá-la também?
Nos salgueiros pendurando
As suas harpas silenciosas
Não as podiam tocar
Com as suas mãos calosas!
A Deus pediam: queremos
Ver Babilônia destruída,
Pegar em cada criança
E dar fim à sua vida!
Hoje, escravos do pecado,
Querendo a libertação,
Temos no Filho de Deus
O caminho p’ra Sião!

Abigail Braga
do livro Cânticos de Sião Volume II
* Abigail Braga é irmã do nosso grande poeta Jonathas Braga

Fonte: Blog Poesia Evangelica - http://poesiaevanglica.blogspot.com
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