sábado, 31 de dezembro de 2011

Bênção de ano novo


Que o Deus criador
nos dê a bênção
de criar novos momentos
de vida e alegria em nossas vidas.

Que Jesus Salvador
nos acompanhe
em cada passo, alegre e triste,
para juntos transformarmos
nossas vidas.

Que o Espírito Santo
avive em nós
a chama da vida
para que, em comunidade,
semeemos o amor.

Ano novo, vida nova
no Pai, no Filho
e no Espírito Santo.
Amém!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

MÃOS


Mãos
Aveludadas
Acariciam
Cuidam
Mãos no extremo
De um abraço
Mãos que exprimem
No gesto, no trato
A doçura do amor
Somente as Tuas
Me seguram
Protegem
E sustentam
Sou
Moldada em Tuas mãos.

© Florbela Ribeiro

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

PASTORES

na Arcádia ou em Belém Efrata
os pastores tangem lira
tangem as cordas tensas
do céu,
tangem estrela a estrela
as notas
que formam ondulações
na lã

na Arcádia ou em Belém Efrata
em serras e vales crespos tangem flauta
e articulam os primeiros versos
do poema do fim da tarde
deixando que o sol ao pegar fogo
entoe os últimos

na Arcádia ou em Belém Efrata
os pastores de mãos manchadas de leite
criam salmos lestos
ao nascer de um cordeiro

27/12/11

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Uma Pequenina Luz

Uma pequenina luz bruxuleante
Jorge de Sena


Uma pequenina luz ao longe
levíssima toca
a íris dos meus olhos, está lá
franca, límpida e sensível
à clara neblina
não é ainda a prata da aurora

Uma pequenina leve
luz ao longe
faz um buraco na treva

Avoluma-se e vem
como o dia desejado, o chão
que nos enche sob os pés
este vazio

Não é abismo, essa luz
pequenina luz ao longe
é um pequeno resíduo
de humanidade
uma estrela, a alva
espuma de uma praia

Não é ainda o mar, nem o azul
é uma pequenina leve luz
de longe, a despertar-nos.

10/11/2009

J.T.Parreira

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Os que vêm nos camelos, navegam na Luz branda

(He Qi, artista chinês cristão)

Os que virão nos camelos”
Jorge de Lima


Os que vêm nos camelos
navegam na luz branda do luar
têm visões no deserto
quando o sol derrama no horizonte
as águas ilusórias
também bebem
dos espelhos da água mais profunda
vêm de vales estuantes
os que virão nos camelos
quando a viagem terminar os seus vestidos
serão trapos do tempo, não importa
pois trazem presentes
e seguem a estrela indispensável
e vão em busca da glória
do Menino.

13/12/2011


Poema Inédito de J.T.Parreira

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

ORFEU'N BLUES



pela galeria do metro vai
Orfeu
em busca da sua Eurídice
tê-la-á deixado cair
para ser tragada pelo torvelinho
do ar frio que se instiga
lá de cima da rua?

procura-a na galeria
na luz mole
dos olhos que reviram
desdém
procura perceber nos magotes
de vozes um silêncio
que soe à voz de Eurídice

por isso Orfeu toca o saxofone
como um bailarino em busca do seu par

Orfeu estende o som
na busca lança-o da galeria
para a escadaria e desta para o túnel
estende-a e recolhe-a
no chegar e no partir
de mais uma composição
tão paciente e tão flexível
a busca e tanto lhe dói e queima a boca
que cada sopro no saxofone
é a pronúncia do nome

Eurídice
Eurídice
Eurí-dice
Eu-rí-di-ce

Orfeu toca para Eurídice ouvir
toca uma marcha lenta
uma modinha cega

13/12/11

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Véspera de Natal



Um dia igual a tantos outros, ou talvez não
Observem o que cidade transmite aos nossos olhos:
Sombras que deslizam e máquinas que correm
Para a sua própria glória.
Os cotovelos das pessoas têm pressa
E os passeios são buracos de agulha
Para um vaivém constante.
Entre os cumprimentos de cortesia habitual,
Trocam-se os votos de um Feliz Natal.
E eu, seguindo à risca o rito,
Repito a saudação que à D. Gertrudes cabe
- Vendedora do mercado para lá de quarenta anos,
Que em resposta diz que a celebração jamais será feliz.
Intrigada, paro mesmo ali, na torrente da calçada
E fito-lhe o rosto envergonhada:
- Meu Deus…como a pobre mulher envelheceu,
Ainda não me tinha apercebido que o sorriso
Deslumbrante
Que a cada manhã lhe emoldurava o rosto
E brilhava na praceta, então murchara
E no olhar outrora luzidio pairavam névoas...
Questionei a razão daquele desabafo
E a descrição que ouvi petrificou-me
O amigo e companheiro de jornada
Há 10 meses que a abandonara
E até o pequeno Tareco morrera
No mês passado atropelado
- São os desígnios do Alto… suspirou a conclusão.
Atónita, lamentei o sucedido e em seguida censurei-me:
- Como foi possível não me ter apercebido de nada
Em tantos meses?
Só que a agitação da vida é mesmo assim,
O constante corre-corre, não nos permite dar
Atenção a nada nem a ninguém...
Mas… será esta a verdadeira conclusão
Ou seremos antes nós que nos tornamos insensíveis
Á imprevista dor alheia?
Àquela dor que de tão perto nos rodeia
E que, por uma razão ou outra,
Não vemos ou nos recusamos a ver?
Sem mais delongas, abracei a sua mágoa
E esqueci-me da pressa
Dos compromissos, das horas marcadas
Da vida, da minha própria vida
E de consciência desperta e arrependida
Despi-me do meu hábito usual
Despojei-me da hipocrisia
Até do comodismo,
Da indiferença
E da apatia…
E choramos unidas num abraço.
Ela, pelo infortúnio, pela saudade
Eu, de tristeza ao recordar o mandamento:
“Ama o teu próximo como a ti mesmo”.
Quebrantada e arrependida agradeci a Deus
Que na Sua misericórdia excelsa
E imérita bondade
Fizera renascer em mim
O espírito verdadeiro do Natal.


Dezembro de 2010

Florbela Ribeiro


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Os Ossos do Poeta


(Foto: Lugar onde alegadamente se encontram os restos mortais do Poeta, em Granada)


Federico Garcia Lorca não pôde morrer como desejava. “Cuando yo me muera, / enterradme com mi guitarra / bajo la arena.”

A percepção da morte próxima no Poeta granadino acompanhava-o, sobretudo no início da década que viria a ser a do Grande Crime da Espanha franquista. Saberia ele que o pressentimento “é a sonda da alma no mistério”, nariz do coração e bengala de cego, “que explora en la tiniebla del tiempo”.

La muerte me está mirando

desde las torres de Córdoba

Ay que la muerte me espera,

antes de llegar a Córdoba”.


Não obstante esse desejo e este olhar poético, diria um olhar muçulmano da morte sobre ele, Lorca escreveu que “um morto em Espanha está muito mais vivo enquanto morto que em qualquer outra parte do mundo: o seu perfil fere como lâmina de uma navalha de barba”.

É o caso de Lorca, apesar do seu rosto, desenhado por Salvador Dali, ferir, não tanto como lâmina, mas como um tumulto.

Desde logo, a partir das Canciones e do Romancero Gitano (traduzido e apresentado em finais de Setembro passado em Londres sob o título Gypsy Ballads) ao teatro, com duas peças que são lâminas: Yerma e Bodas de Sangre,duas peças de culto, míticas no que recuperam da tragédia grega para o século XX, tanto quanto A Casa de Bernarda Alba repleta da paixão que a solidão colectiva produz.

O caso de Lorca, passados 75 anos do seu assassinato, está cada vez mais no domínio do inefável, do que não pode ser dito, está no âmbito do Mito incontornável.

A verdade é que nos resta o mito, quando não se encontram os ossos do poeta. O próprio Garcia Lorca o criou, duma forma profética num poema de “Poeta en Nueva York”.

Fábula y rueda de los tres amigos” contém 6 versos, num conjunto de toada repetitiva de 70 versos, que são o registo da premonição sobre a própria morte, numa tensão que se revelaria, apesar do seu lirismo surrealista, profundamente profética.
São paradigmáticos, estes versos:
por mi muerte desierta con un solo paseante equivocado”, o Poeta, de madrugada, fuzilado diante de um muro, sem companhia na sua morte; “ comprendí que me habían asesinado.”

Recorrieron los cafés y los cementerios y las iglesias.

Abrieron los toneles y los armarios.

Destrozaron tres esqueletos para arrancar sus dientes de oro.

Ya no me encontraron.

É, no entanto, distante do objecto da composição lorquiana o aparente sentido do seu título: “Fábula e rueda de los tres amigos”; referem os analistas da obra de Lorca que o primeiro título era o mais adequado: “Primera fábula para los muertos”. 

A descrição surrealista do mundo da morte e o sentimnto de dor do poeta perante a sua própria morte e a da cidade de Nova Iorque – julgo que aqui não nos devemos esquecer da data 1929-1930, da queda Wall Street, da Grande Depressão.

Há também o motivo -diz-se nas biografias do poeta granadino- da perda de um amor, que o terá levado por um ano à Universidade de Columbia e a Cuba, e o acento do poema ( como um canto dançante) em torno de três amigos:

Enrique,

Emilio,

Lorenzo.

Estabam los tres enterrados

Estes aparecem numa foto, junto do poema no próprio livro (*), como travestis (“estudiantes bailando, vestidos de mujer”), o que nos pode levar a pensar na orientação do amor perdido de Lorca. Mas isso é outra história.

(*) Poeta en Nueva York, Catedra Letras Hispánicas, 5ª Edicion, Madrid, 1992.

João Tomaz Parreira

domingo, 4 de dezembro de 2011

Perante mim

Destemidamente olhei-me
No espelho um sorriso
Passou no meu rosto
Despertava
Encarei de frente o futuro
Renovei-me nos conceitos divinos
Todos repletos de excelsos valores
Vasculhei minhas gavetas do passado
E perfumei-as de novo

Florbela Ribeiro

 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O Mendigo Lázaro


Poema inédito de J.T.Parreira

Seria estranho não pensar em ti, depois
que Lucas te deu dez linhas
no Evangelho e deu a palma
das mãos dos anjos como esquife
agora que entraste pela porta
da morte com a túnica rasgada
e o andrajo do teu corpo
Seria estranho não pensar no teu silêncio
enquanto guardavas a migalha do pão
para o outro dia.

2/12/2011
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