sábado, 30 de abril de 2011

Águia d'Aurora



A fumaça que sobe de minha choupana incendiada
Tece uma cicatriz na aurora
Me perdoe, mas incendeio baús de passados e amarras
Para voar livre para Ti, Amanhecer


A criança em mim (meu lastro e terna antítese)
apertou o Botão de Alarme
Da minha vida
E esse barulho, como um ranger de trilhos
É meu coração que explode


Meu tempo finda e
Eu aposto
todas as minhas fichas,
Todos os meus ossos
Em Ti


Escapei ainda ontem
Da vila de Maquiavel-dos-Mortos:
- Oh Cristo, eu vim
Em busca de tua Engenharia de Revolução


Diploma-me


Mata-me


Ressuscita-me
Ressuscita-me


Ressuscita-me


Sammis Reachers

terça-feira, 26 de abril de 2011

... Eternidade...!



Faz tempo que o tempo não foi
Faz, tempo, teu último pedido
Dentro em breve, serás uma vaga lembrança

O tempo dá adeus à vida quando dá a Deus a vida.


A morte não é o fim do tempo da vida,
É o fim da vida no tempo.

Enquanto o tempo é,
Nós não somos. 
Quando formos, 
Ele não será mais.


Seminário Presbiteriano do Sul, Campinas, 26 de abril de 2011

No Dia da Sua Morte


Poema inédito de J.T.Parreira


Hoje os cordeiros sentiram calafrios
no leite materno, beberam
os trigos o orvalho do chão
inclinando as espigas
hoje o sol abrandou
o seu ímpeto de fogo
e cedeu
a angústia pesada das pedras
dos sepulcros
hoje neste dia desigual
todas as mães sentiram
estremecer o útero
porque na cruz
uns olhos bordados de doçura
sucumbiam.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Pedra

Muito pouco tem sido dito
sobre a pedra, uma
fronteira do sepulcro
uma forma densa do não
muito pouco
perante as circunstâncias
se tem dito sobre a pedra
surda e um olho cego no dia
da ressurreição
não se entrava nem saía
dessa pedra, e no entanto
foi uma gota de água
como uma folha branda
um cristal tocado pela imensa
Mão, uma claridade
no primeiro dia da semana.


24/4/2011

Poema inédito de J.T.Parreira

domingo, 24 de abril de 2011

NO PARAÍSO


“no Paraíso, estive à beira de todas as cores
quando as manhãs acordaram nos meus olhos”
J. T. Parreira, “Expulsão do Paraíso”

Percorridos todos os limiares
e arestas negras, as artérias de granito
em vez da ondulação dos teus cabelos
trocadas as tuas carícias por um grito

culpados de todas as traições
de nos acolhermos ao colo de um pai estranho
extraviados da sabedoria de todas as cores
que falavam das manhãs acordadas de antanho

esquecidos das brisas lentas
das conversas sob as árvores ao fundo
da tarde, restou-nos a sombra do teu vulto
projectada como noite sobre o mundo

Mas na tua carne e no teu sangue
rasgaste para sempre a distância a frio
depusemos então as saudades à soleira da porta
reaprendemos então a alegria da Tua voz de rio

Rui Miguel Duarte
7/10/10

sábado, 23 de abril de 2011

DEVS EX MACHINA

“Jesus exclamou: «Mas que gente esta sem fé e desorientada! Até quando terei que estar convosco? Até quando terei de vos suportar? Tragam-me cá o rapaz.»”
Evangelho segundo Mateus 17:17


Senhor, sabemos que és maior
do que o vento, que voas aonde
as águias não sonham
e que a tua voz deslaça os corações
dos demónios

corta, Senhor, à espada
a cabeça destes malditos
que te desprezam
os corruptos os ricos
vorazes das carnes do pobre
faz justiça aos desvalidos

não te demores Senhor socorro
há aqui uma hemorragia
estanca a este a lepra
clareia a voz àquele
antes que também
os ouvidos se lhe esqueçam de ouvir

pois a tua mão é poderosa
e a nossa é mão
no fim dela há apenas dedos

vem Senhor e levanta-nos daqui
do vale deste sacrifício para o teu Reino

Rui Miguel  Duarte
23/04/11

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Lição de Música

Mas quando Davi enviava os sons da harpa
para os céus, a harpa seduzida
pelos seus dedos, um sorriso
assomava ao espírito de Saul
Baixavam os olhos ao coração sanguíneo
via dentro de si o tranquilo
consolo que a música fazia, o bálsamo
das mãos trazendo odores de jardim
Ao mesmo tempo que as pombas
se desprendiam das cordas
assim velava a harpa da Davi.

Inédito de J.T.Parreira

terça-feira, 19 de abril de 2011

SISTEMA FECHADO

Mas Jesus, sem acudir a tais palavras, disse ao chefe da sinagoga: Não temas, crê somente (Marcos 5.36).
Mas Jesus, ouvindo isto, lhe disse: Não temas, crê somente, e ela será salva (Lucas 8.50).

A sociologia
A psicologia
A filosofia
A Psiquiatria
A geografia
A pedagogia
Não sabe fazer milagre
Não sabe repetir milagre
Em seus tubos de ensaios

O cientista
O laboratorista
O geneticista
O ginecologista
O oncologista
Não sabe fazer milagre
Não sabe repetir milagre
Em seus tubos de ensaio

O Marxista
O comunista
O capitalista
O socialista
O utopista
O fascista
O anarquista
Não sabe fazer milagre
Não sabe repetir milagre
Em seus tubos de ensaios

Logo, concluem os tais: NÃO HÁ MILAGRE.

Que mundo triste os dos DETERMINISTAS.



Luiz Flor dos Santos

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Almofada


De dia subimos os nossos montes
cada distância mais longe
depois de deitada a nossa cabeça
num novelo de nuvens
por dentro e por fora
um sonho bordado.

16/4/2011

J.T.Parreira

domingo, 17 de abril de 2011

CINZAS


não há cinzas que bastem
para lá da chuva
para obscurecer sobre os oceanos
a respiração dos peixes
não há montanhas ainda
que as nuvens
parem, o vento sempre passa
e se move e toca com plumas
a terra e descansa-nos os pés

as cinzas existem
só na penumbra dos olhos
não têm mãos
para nos diluírem nos ares

nas há cinzas na tua Face
de brancura nem na tua Palavra
só esta nos basta
para lá da chuva
por dentro do mundo

Rui Miguel Duarte

17/04/11

sábado, 16 de abril de 2011

NOVO SALMO 91



As poeiras não entram 
na casa do Altíssimo 
todas as gangrenas e infecções 
podem incrustar-se no espaço ou 
partir-se nas pedras 

eu é que não as temo as setas as pragas
que espreitam à entrada da noite
abro os olhos e o que vejo?
a arma do caçador furtivo virou-se
contra a própria mão que acciona o gatilho
marcho por entre as colunas rígidas
de exércitos empedernidos 
que se estilhaçam um por um 
os meus joelhos não se quebram
e os meus pés marcham
e pisam indolor um chão 
de inimigos

esquivam-se fogem os medos 
dos que me odeiam 
e ao alto de um monte 
sou transportado onde 
sobre a minha cabeça
pousa como asas o sol do Senhor 

Rui Miguel Duarte
12/04/11

VIÚVA DE SAREPTA

quando o meu marido 
ao pó se uniu
a minha cabeça perdeu o véu 

nem é meu este chão 
para cavar a minha sepultura
só tenho este filho 
um pão o derradeiro
para adormecer a morte
só esta temos 

até a voz me deixou
com o vento do deserto

mas outra voz 
a do profeta 
me pede que da nossa fome 
mate a sua fome
então o Senhor seu Deus
perpetuamente acrescentou
à minha mesa 
o sol

Rui Miguel Duarte
14/04/11

domingo, 10 de abril de 2011

OS RIOS

Passam-nos por sob as bocas
os rios passam incólumes
e lá pousam as águas
onde deixámos os olhos
presos nas curvas dos cabelos 
e das coxas da amada

neles buscamos a paz 
que os vales cavaram
buscamos a paz 
que se entregou ao enlace
dos pensamentos trementes
nas centelhas de luz à superfície 
dando à luz o sol 

cavalos de pele lisa 
são as águas dos rios
afago nas bocas que queriam dizê-los
e ampliá-los em verbos e nomes

mas o que há neles são águas
quando os nossos olhos as tocam
e os lábios delas são magoados
é o corpo e a alma todos que nelas
nadam e passam e permanecem
inocentes


Rui Miguel Duarte
9/04/11

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Com as palavras

Com as palavras
faço acrobacias imediatas,
de olhar fixo no céu firmo
os meus pés, sobre o ar.



Florbela Ribeiro ®

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Se me tirar os Olhos

Se me tirar os olhos, não ficarei
no entardecer
nem me perderei no caminho
com os meus dedos irei
sob o fogo azul do sol
tocar ainda os rostos que conheço
Se me tirar os olhos
poderei sonhar para dentro
tal como a água terna das lágrimas
começa antes no fundo inominável

Se me tirar os olhos
todas as coisas
serão cores que ouvirei
nos sons que conheço, um neto
afundando a cabeça no meu peito
será uma canção
entre um pássaro e outro pássaro
sentirei o vento do seu voo
e assim o que agora não vejo
em todas as coisas tornar-se-á claro.

6/04/2011

Inédito de J.T.Parreira
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