terça-feira, 27 de julho de 2010

Sobre a transcendência


2

A alma tolhida -
constrangeram-na ao silêncio
cada um deles: pecados e lembranças,
insatisfações e incertezas.

Ah! pois que na noite incerta da vida
permeou o negrume,
divagou por entre as trevas,
solta e incônscia,
numa desordem desmedida.
Esvaiu-se ligeira e atormentada,
vestida de sonhos,
impregnada de ilusão.
Desconhecia ser ela o recôndito,
o mais profundo e sagrado
recesso humano,
habitáculo de quem perscruta os corações.

Se te deste a quimeras,
se teus olhos no infinito
não divisam o arrebol...
Se estás amoravelmente preso
ao teu elemento material,
a tudo que te cerca e perece,
sabe que tu'alma secou,
é um braço de rio que deixaste exaurir

É tu'alma eterna e
para sempre tolhida.

De Fabiano Medeiros (1987)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

SUBIDA AO SINAI

Ao subir ao monte
subo de dorso curvado
e olhar arrastando
no chão

o coração ainda se ergue
para o pico
mas o peso da convocação de Deus
a massa ingente da profecia por nascer
acabrunha o próprio ar
que respiro

sarça que arde nos pés
sobre a delicadeza sagrada
da terra,
temo apenas rasgá-la
por isso o meu dorso
pesado sem asas
e carente dum mistério duma voz duma palavra
que o salve
vai curvado

e sobe

Rui Miguel Duarte
20/07/10

sábado, 17 de julho de 2010

Na Ilha Chamada Triste, poemário de J.T.Parreira: Um livro para download gratuito

*

Nos 16 poemas que compõem este opúsculo, iniciado no Recife (Brasil), “defronte do mar”, em Abril de 1995, e concluído em Aveiro (Portugal) pelo mesmo ano, o poeta evangélico lusitano J. T. Parreira enfeixa as vozes de uma Patmos do Exílio e sua companheira sequaz, seu quase duplo que é a Solidão. Ilha (e ilha interior) da pura contemplação do profeta (apóstolo João) e do poeta (JTP) que produzem num a Revelação (Apocalipse), que com seu tesouro de ora literalidade, ora alegoria, nos traz a Advertência e a Esperança; e noutro a poesia que re-conta, re-vive, re-vigora e trans-vigora com a verve de sua voz poética as vivências do Apóstolo em seu exílio insular. 

Eis-nos Patmos, (uma) estranha ilha (chamada) Triste, mas de uma “tristeza segundo Deus” (2Co 7.10), que opera em seu fim a salvação.

É pois com imenso prazer que venho a editorar e apresentar, neste formato de e-book, este singelo e até aqui inédito (em seu conjunto) presente aos apreciadores da verdadeira Ars Poetica.

PARA BAIXAR O E-BOOK, CLIQUE AQUI.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A Tristeza

Entra determinada
E instala-se

Actua indiferente
Ao querer e à vontade

Domina as acções
Os pensamentos

Arma rasteiras à razão
E ao sentimento

Banha-se no mar das emoções
Onde habita o desalento

Florbela Ribeiro

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Inquisição

*
O cão farejador
ítalo-alemão
(na verdade teuto-italiano)
que a Academia adestrou
encontrou um
fundo falso
no poema

e no fundo falso
uma mensagem
sem palavras, sem sinais,
signos

e ainda inserida
no já corpo estranho de
tão sinistra mensagem

uma subliminar


dizendo a Israel que marche

Sammis Reachers

segunda-feira, 12 de julho de 2010

MEDITAÇÃO SOBRE O SALMO 93


“A selvagem exalação das ondas”
Sophia de Mello Breyner Andresen, “O Mar”

A selvagem exalação das ondas
subindo aos astros é mais possante
do que eu

o exaltado rugido do tropel das águas
abre mais a boca escura aos céus
do que o clamor cavo
da minha alma

o estampido excessivamente rouco
do seu chicote
flagelando os penhascos
consomem o ar que respiro
e desmantelam o chão que piso

Mas o Senhor nas alturas, forte e grandioso
no Seu trono
é mais levantado do que todas as águas
o fragor da Sua voz
mais sonora de eternidade
e escora-me o mundo sob os pés

é então que
toda a minha vacilação diluída
nas ondas se esvai, e todo o sobressalto
recolhe à vazante

é então que
a voz do Senhor acima dos céus, forte e grandioso
no Seu trono
ensurdece esse muito ruído das marés
num estreito murmúrio de búzios

10/07/10

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ramos

Um homem em um jumento.
Um caminho repleto de pessoas.
Mantos e palmas espalham-se na alegria.
Alegria pelo homem! Hosana!

Um caminho de alegria.
Um caminho de cânticos.
Um caminho de palmas.
Um caminho para vida.

Assim como naquele domingo,
nossas vidas devem ecoar:
Hosanas, alegrias, cânticos, palmas.
Ramos: um Domingo para a vida!

Poema integrante do livro Caixa de Versos de Giovanni Alecrim, edição do autor, São Paulo,SP: 2009

Ecos de silêncio

Insinuosas são
As marcas decalcadas
Nos espelhos da memória
Ecos rasgados
De um passado presente
Acometido por silenciosos
Escritos flutuantes
Sobre um céu de sílabas
Inacabadas

Florbela Ribeiro®

quarta-feira, 7 de julho de 2010

ENTRE DOIS AMORES


Bruxuleante esteio de incauta era:
Dinheiro e prazer dos que buscam paz.
O urbano rico sonha esta quimera
Sobe o morro e na favela de ilusão se faz.

Vivemos tempo ignóbil de vã filosofia
Hedonismo crasso a romper valores.
Busca-se no prazer a terceira via
Pra fazer sentido entre dois amores.

Vivemos tempo indócil, prenhe de tensão
Grande encruzilhada propondo cruel escolha
Presente e futuro acelerando o coração.

Entre o futuro incerto, filho da esperança
E o tempo presente, frágil como a folha
Opta-se pelo prazer e não há bonança...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Lamento de pastor

Poema inédito de J.T.Parreira


Lanço meus olhos na penumbra
para tocar o veludo
da tua lã, meu olfacto
lanço ao vento
para achar o teu perfume

lanço minhas mãos cansadas
de modelar silêncios
e meus ouvidos na sombra
lanço ao teu encontro
para desvendar teu corpo
entre os espinhos

lanço o meu coração
como uma estrela caída
que procura na noite
o teu balido.

19-2-2010

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sobre remir o tempo


É hoje (Que proveito há?)

Aproveitar e honrar meus pais antes que morram
aproveitar e viver a vida antes que escorra
aproveitar e amar a mulher dos meus dias
aproveitar e encaminhar os filhos que me deu.

Aproveitar e me deixar ser amigo.
Aproveitar para um verdadeiro próximo me tornar.
Aproveitar e glorificar a meu Deus
amá-lo, honrá-lo, obedecer-lhe, vivê-lo

e que jamais chegue a hora
de ele dizer
que nunca me conheceu.

De Fabiano Medeiros (2010)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Por quem devo chorar?

Por quem devo chorar?
Pelo pai, pela mãe?
Pelo irmão, pela irmã?

Por quem devo chorar?
Por você, por mim?
Pelo vizinho, pelo soldado?

Por quem devo chorar?
Por quem devo clamar?

Poema integrante do livro Caixa de Versos de Giovanni Alecrim, edição do autor, São Paulo,SP: 2009

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...