domingo, 29 de novembro de 2009

Janela 10/40


Avanço
na direção de quem morre


avanço
com uma contra-cimitarra
de cicios nos beiços


com a sedução
que só o amor constrói

Sammis Reachers


O que você tem feito pelo avanço do Evangelho no mundo?

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

LÁZARO SEM ABRIGO

“Está sozinho preso ao fio
da velha roupa
que espera outra noite, no espaço
imóvel do silêncio”
J. T. Parreira, in “Na rua”

Sozinho, preso ao fio
da velha roupa
à porta da mansão do banqueiro
é um estranho
e só tem de seu o meio degrau
em que está sentado

Sozinho, ulcerado
pelo vento e pela chuva
e lambido pela língua
dos cães
sozinhos
como ele,
espera que noutra noite
numa qualquer
(se não for nesta),
lhe caia da mesa
uma côdea de pão
dentro do espaço
imóvel do silêncio
da fome

Sozinho, intruso
às colunas
que ladeiam a porta
preso por um fio
do velho cobertor
que o banqueiro pisa ao entrar
tem os joelhos cravados na laje
de mármore
da solidão
e os olhos postos no céu
aspergido de estrelas
no seio do pai Abraão

Rui Miguel Duarte
26/11/09

VIESTE NA FRAGILIDADE

Vieste na fragilidade
Palavra eterna, forte, graça e verdade
Feita carne.

Na fragilidade
De que somos carne e sangue
Articulação, osso e medula.

Sem majestade, sem coroa nem manto,
Sem luzes que ladeiem nem cortejos que acompanhem a tua passagem,
Sem a glória do Único Filho que exibisses de ti mesmo.

Uns te anunciaram e te esperavam
Oravam e jejuavam até que viesses,
No templo, no lugar da profecia,
Outros nos cálculos astronómicos, atentos ao rasto dos astros,
E na maturidade das eras denunciando os sinais,
Com anseio de ao estábulo correr e poder te ver
No estábulo do arrabalde, onde outros te não esperavam.

E por dentro da nossa fragilidade te intrometeste,
Açoitado pela dor, por todas as paixões tentado.
Comeste da nossa fome, bebeste da nossa sede,
Conheceste a ardência do prumo do sol e a geada nocturna no deserto,
O rosto sulcado pela tristeza da partida dos que amaste,
Até a lâmina dos amigos que traem, os íntimos,
E a tortura e a enfermidade.

Mas em tudo permaneceste tu mesmo,

Sem nunca te tornares fragilidade,
A não ser essa nossa fragilidade,
Tanto na hora primeira, quando necessitado de agasalho e do peito da mãe,
Como na derradeira, meu Deus, meu Deus, abandonada da misericórdia do Pai.

Aí a nossa fragilidade toda se consumiu e se consumou.
Entendemos então a verdade e a graça
Feitas carne e sangue,
Feitas cada um de nós.
Hoje, dia de Natal, comemoramos o primeiro dia
De eternidade e força,
Em que
Fizeste de nós o que tu és.

Rui Miguel Duarte
Natal de 2005

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Elementos

Trigo, farinha, fermento.
Suor de um povo
renovado pelo pão.
Pão da vida.

Uva, fermento,
cansaço de um povo
renovado pela esperança.
Vinho da vida.

Poema integrante do livro Caixa de Versos de Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo, edição do autor, São Paulo,SP: 2009

sábado, 21 de novembro de 2009

NEGAÇÃO



“«Olha, Pedro», avisou-o Jesus, «não cantará hoje o galo sem que me tenhas negado três vezes»”
Lucas 22,34 A Bíblia para todos, p. 2094


Antes de o galo acordar o sol
antes mesmo de a aurora multiplicar rosas
ouvir-se-á o murmúrio das vozes
no pátio
e ao vento uma palavra não soprada

O coração esconderá a vergonha
lançá-la-á ao crepitar da fogueira
acesa para aquecer corpos
consumir fadigas e tristezas
mas o ardor de um coração culpado
fogo nenhum extingue
antes mais o inflama

O seu rosto será familiar
cuspido e escarrado
alguém o terá visto
o braço direito desse Rei

E ao vento uma palavra não balbuciada

Sentados na roda dos coscuvilheiros,
os olhos mirarão o homem
de fronte suada de desassossego e fuga
As vozes certificarão o que ele preferirá ignorar
terá sido um desses que terão partilhado a mesa com o Galileu
e que tentará então com a aba do manto
manter o anonimato

As vozes darão carne à sombra que ele ansiará
por abandonar numa esquina

Mas fugirá o descanso desse coração incerto
pois ao vento uma palavra NÃO será protestada

E será este protesto quem acordará o galo,
que então se lembrará que será a hora

Outros olhos então pousarão nos seus
os olhos doídos do Mestre
que lhe atravessarão a couraça da alma

E na esquina onde se quis esquecer
será aquela em que se reencontrará
no espelho das lágrimas: ainda que a voz minta
estas só sabem dizer a verdade
e desconhecem a palavra
NÃO

Rui Miguel Duarte
20/11/09


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

AOS PRÓXIMOS

Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Lucas 10.27)

Para quem reservamos
O mau humor do inicio do dia e do fim deste?
Para quem reservamos
O descontrole da raiva?
Para quem reservamos
As palavras duras?
Para quem reservamos
O nosso estresse?
Para quem reservamos
A liberdade de dizer o que bem entendemos?

A quem evitamos oferecer
Bom dia?
Boa tarde?
Boa noite?

A quem esquecemos de
Elogiar?
Reconhecer o mérito?
Agradecer?

A quem tratamos com propriedade?

Estranho...
Reservamos tudo isso
Para os próximos.

Autoria: Luiz Flor dos Santos, pastor na cidade de São Gonçalo do Amarante, Ceará na Igreja Batista Fundamentalista Cristo é Vida.

CONHEÇA OS BLOGS DO PASTOR LUIZ FLOR:
www.pulpito.blog.terra.com.br
www.poesiadegraca.blogspot.com

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Refúgio


















Refúgio


Menina que tens o olhar
distante do chão,
o que vês lá em cima?
O que te desperta tamanha atenção?

É uma ave de rapina que passa,
uma andorinha,
uma garça,
ou um avião?

Ou será que vês no alto
um refúgio oculto
para escapar deste mundo sem graça,
carcereiro das mentes,
e dos sonhos,
vendedores de ilusões?

Se é isso menina segue,
segue então com o olhar
distante do chão.
Mas segue sempre
porque essa é
a direcção!

Florbela Ribeiro

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

PAZ VERDE

Foto: Araquem Alcântara


Criança amiga do sol,
sozinha no mato,
feita soldado do verde
sob as insígnias dos girassóis...

Corre, vigia, ri,
exulta
(seu corpo é
nau anil alada
por 7.000 asas)
nos campos criados por Cristo.

Sua avó lhe instruiu em todo o Evangelho
e sua imaginação hoje voa, só porque o pastor lhe disse:
"O melhor de Deus ainda está por vir."

Seu sorriso e inocência são uma afronta,
eles bradam ao mundo e seu Satã,
num silêncio de supereloquências:
"Consumam vocês suas ba(le)las e logros.
EU NÃO ESTOU SOB O JUGO DO TEU JOGO."


Corre, criança verde de sol.


Sammis Reachers

domingo, 8 de novembro de 2009

A Capa

Tomaram a minha capa para cobrir
a nudez do império,
para pesar nas mãos o insustentável
Céu;
apanharam o cheiro do meu corpo,
disputaram dado a dado
a pureza do meu pobre linho.

Poema de João Tomaz Parreira

Via A Ovelha Perdida, Poesia Gourmet

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

MEU AMIGO

Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão (Provérbios 17.17).
Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos (João 15.13).

Meu amigo é o mar
Vasto
Cheio de cores
Sempre inspira cuidado
Provedor.

Meu amigo é o vento
Vem de todas as direções
Refrescante
Tem peso.

Meu amigo é uma flor
Deixa sempre um tanto de si em nós
Embeleza
Diz muito em pouco tempo.

Meu amigo é a vida
Sempre desejado
Valor por quem se luta
Para nunca perder.

Meu amigo é um livro
Com ele aprendo sempre
Vislumbro sempre algo novo
Ou recupero o esquecido
Para com ele não se pode ser indiferente.

Meu amigo
É tudo o que há de bom
Em virtudes e intenções.

Autoria: Luiz Flor dos Santos, pastor na cidade de São Gonçalo do Amarante, Ceará na Igreja Batista Fundamentalista Cristo é Vida.

CONHEÇA OS BLOGS DO PASTOR LUIZ FLOR:
www.pulpito.blog.terra.com.br
www.poesiadegraca.blogspot.com

No Éden

"Para aqueles que frequentam o jardim
o mundo está sempre a florescer
Longe de mim diminuir o louvor"

José Tolentino Mendonça, in "Sintra, antiga Estalagem da Raposa"


Aqueles que frequentam o jardim
fazem de cada pétala a sua casa
em cada cor reflectem as luzes da cidade
em cada olor se lavam da poeira das estradas.

A sombra das árvores é o seu deleite.
Se se sentam nos bancos, é para que
os ouvidos fiquem atentos
ao salmo dos pássaros
e do rumor das folhas.

No jardim o tempo não tem fronteiras,
não há sebes,
nele deixa o infinito o seu lastro.

Longe de mim romper
a fina membrana do silêncio
longe de mim permitir que
a perene florescência
do mundo, que para eles é o jardim,
deixe de entoar o devido salmo do louvor.

1/11/09

Publicado como inédito em Poeta Salutor

Salmo 23
















Salmo 23

Porque o Senhor é o meu Pastor, de nada sinto falta.
Ele me conduz
aos seus campos verdes de descanso, o meu sorriso
se vê no espelho plácido das suas águas.

A minha alma se conforta, e por sua graça
me conduz pelas veredas da justiça.
Nada recearei, ainda que sobre mim
se abatam densas trevas,
a tua presença e o teu auxílio me consolam

Entre mim e meus inimigos, a mesa
da abundância, abrigo diante da cara fechada
dos adversários, sobre mim derramas o teu perfume
como ave de muitas cores
Bandeiras de misericórdia e perdão
hão-de escoltar a minha existência,
sempre Contigo
.

Florbela Ribeiro
(com a colaboração de JTP)

Celebra Saudade

No peito bate a saudade,
lembrança viva na alma.
Palavra que alimenta,
nos dá paz, nos acalma.

Os gestos estão vivos
no nosso coração.
Seu olhar sempre firme
carregado de emoção.

Nesta hora celebramos
como o Senhor fazia:
reunidos como povo,
celebramos: Eucaristia.

Pão: corpo.
Vinho: sangue.
Lembramos sua vida,
lembramos sua cruz.
É bom estar à mesa,
contigo Senhor Jesus.

Poema integrante do livro Caixa de Versos de Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo, edição do autor, São Paulo,SP: 2009

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