domingo, 31 de março de 2013

CELEBRAÇÃO


“Quando eu morrer batam em latas,

Rompam aos saltos e aos pinotes”

Mário de Sá-Carneiro, “Fim”

Quando morri batestes em latas
fizestes do meu corpo o tambor das vossas festas
rompestes em pinotes na seda de acrobatas

ocultastes-me nas costas de uma pedra
ajaezado numa câmara escura
na ausência de um fandango
descurado na concha de um frio chão

Quando nasci de novo bebestes
um brinde de celebração

Quando nasci de novo foi só
uma nova manhã para palpitar
o encontro dos cálices do coração

no sol o rosto lavastes, ao céu quente
aprendestes a nova canção que os astros
de há muito sussurravam
as estrelas cadentes
eram os alegros esparsos

dessa composição por tecer

Rui Miguel Duarte
31/03/2013

quinta-feira, 28 de março de 2013

Paixão: paixão de Cristo


por George Gonsalves
Como nomear o ato de 
curar enquanto se é ferido
doar-se apesar da traição
consolar em meio a lágrimas que insistem 
em rolar pela face triste?

Qual o nome do gesto do
Senhor que lava os pés dos servos
do Criador que se permite ser blasfemado pelas criaturas
do Santo que divide refeição com pecadores
do Altíssimo que se importa com pequeninos

Por favor, me diga como chamo o ato de  
morrer por quem o coloca numa cruz

O nome disso é Paixão:
Paixão de Cristo


quarta-feira, 27 de março de 2013

LENDA DO ÉDEN

Não procures: é aqui
que as folhas caem
ao fim da tarde 
da primeira tarde
aquela em que o corpo de Adão
foi levantado do chão em que
foi mais do que um sonho
a véspera do novo dia

aqui é Adão
o corpo de Eva
caídas as folhas da tarde
soltas de papel timbrado
dos rios, os quatro rios
do Éden

não procures: é aqui
que o vento grava nas árvores
para sempre o esboço preciso
da primeira tarde
grava-o nos dedos de Deus

Rui Miguel Duarte
25/03/13

sexta-feira, 22 de março de 2013

domingo, 17 de março de 2013

O AMOR DE DEUS


Para mim, tudo passou.

 As inflamadas pregações

 nos púlpitos, as lindas palavras sobre

 o amor de Deus por nós aos domingos.


Passou como se pudéssemos

 medir o imenso céu à palmos

 e o tempo escoasse

por uma ampulheta invisível.


O dia do sal passou

com suas dores.


As profecias despareceram

 Para que eu estivesse aqui

 diante de um mar

que nunca mais acabará

lUma reflexão válida sobre a mentira.

União de Blogueiros Evangélicos: Dia da Mentira: por que precisamos dele?: Por Wallace Sousa, do blog Desafiando Limites . Dia da Mentira: por que precisamos dele? "Vocês pertencem ao pai de voc...

sexta-feira, 15 de março de 2013

O QUE SE DIZ DO SANGUE

“Aqui, do sangue, nasceu o encontro
o esplendor”
António Ramos Rosa

Do sangue nasceu o que foi dado
do céu e da terra, e nisto ambos se abriram
no enlace fatal

em que o poder foi quebrado nas mãos
molhado o rosto da penitência

foi aqui, na boca da manhã
que a justiça
reclamou o seu sangue desde a raiz
do tempo quando muitos cálices
eram derramados
mas um só havia a beber

no sangue que as mãos
rebentaram e deram ao oiro
o seu esplendor

Rui Miguel Duarte
15/03/14

quinta-feira, 14 de março de 2013

A alegria da triste paixão - Um poema de Daladier Santos



A dor indescritível percorria seu corpo
Como antevira em cena desconcertante
Sua cabeça pendente, sem anima, morto
E todos à volta, agitados, ódio gritante

Naquele jardim o destino desenhado
O choro agoniado, alto, desabrido
O mundo todo esperando, endividado
Ele soçobrava, exausto, caído

Seu último grito soa rouco, mas livre
Em tuas mãos entrego o espírito, Pai
Em vão as últimas indicações que vive
Não leves em conta. aquele que me trai

Cristo sofreu em seu intento amoroso
As gotas de sangue caíam em registro
Assinando o quadro mais doloroso
Aquele dia da história mais sinistro

Triste paixão do homem mais forte
Que viera a se tornar fracos entre nós

Vencera a dor, a cegueira e a morte
Jazia alquebrado de maneira atroz

Na frente o horizonte perdido e embaçado
Abaixo os gritos de repúdio dos seus
Ele sereno, impávido, por nós desgraçado
Seguia seu rumo, a vontade de Deus

Num canto do olho sua mãe serena
Que distante ouvia os gemidos chorando
Não podia estender sua mão pequena
Presa no prego, fixamente segurando

No outro, o consolo da visão noturna
Multidões dobradas olhando a cruz
Nem tudo era ruim naquela cena soturna
Salvos aos milhares pelo homem Jesus

O Pai lhe dizia em baixinha ouvida
Um dia vamos receber a Igreja amada
Lavada com seu sangue, remida
No Céu, no Lar, na Eterna Morada

A Deus coube moê-lo, fazendo-o enfermar
Mas quando vir, no futuro, a sorte sobeja
Diante do seus anjos, em júbilo, afirmará
A alegria da paixão é maior que a tristeza

Visite o blog do autor: http://daladier.blogspot.com.br

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