domingo, 26 de junho de 2011

ÊXODO

“E um silêncio talhado
para o voo de um moscardo”
Eugénio de Andrade, “Paisagem”

vimos tudo o que se passou
como talhou
o silêncio à lâmina precisa
de voos de moscardos
empalideceu o céu picou-o
em milhões de pedras
que choveram sobre a areia
vagas de assalto de gafanhotos
a mastigarem a terra
vimos como deu às águas
a essência do sangue
vimo-lo na face de todas as pragas

até que encheu de vazio
a herança do Faraó
então vimos como talhou
o fundo do mar para a marcha

e nós passámos
inteiros


Rui Miguel Duarte
26/06/11

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS, X, 29




poema inédito de J.T.Parreira


Tenho os montes nas palmas
dos meus olhos
na minha mão
ainda vigora o mais puro amor
nem uma folha cairá
sem a minha vontade, nenhum cabelo
da vossa cabeça passará pelo inferno
nenhuma nuvem
dará ao pássaro a efémera
comoção de um ninho.

23/6/2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Carta aos Derrotados


Aos derrotados de todas as idades, tempos e lugares:
Jesus já venceu por nós

Aos que escrevem poemas de amor
na língua morta
de um país que já não existe:
Continuemos Poesia contra os muros,
Jesus já venceu por nós

Aos mutilados e deixados pra morrer
em Waterloo e Stalingrado,
Roraima e São Paulo, na próxima esquina,
nos porões das (in)direitas ditaduras
ou nas sibérias comunistas,
no miolo efervescente da multidão
ou nos últimos últimos últimos bancos
das Igrejas:
Olhemos para o alto,
Jesus já venceu por nós

Aos apunhalados enquanto dormiam
por um dos cem milhões
de Judas que Satanás
comissionou e infiltrou
nos mais improváveis meios, famílias e lugares:
Perdoemos,
Jesus já venceu por nós

Aos que sempre ou apenas
numa única hora errada
(apenas)
deram as costas:
Ele é o nosso Grande Perdão
pois Filho do único Onibenevolente;
Jesus já venceu por nós

Aos que nas malfadadas todas
as tantas e tantas e tantas vezes
roubaram e estupraram,
mentiram e abusaram,
traíram e assassinaram;
àqueles e àquelas prostituídos e travestidos,
aos viciados em substâncias, jogos ou pessoas,
aos cães de todas as estirpes,
aos extirpados, a todo aquele
que habita e palmeia
o fundo frio do poço:
Arrependamo-nos, arrependamo-nos, arrependamo-nos
e creiamos:

Em Cristo Jesus somos mais que vencedores.

Sammis Reachers
(texto e imagem)

quinta-feira, 16 de junho de 2011

MINHA VIDA E SÓ

Estou seguindo...
Feliz
Chateado
Raivoso
Pensativo
Feliz
Alegre
Preocupado
Confiante
Animado
Triste
Decepcionado
Cabisbaixo
Entre olhares
Compreendido
Mal compreendido
Amado
Aplaudido
Vaiado
Quieto
Apressado
Firme
Indeciso
Acabronhado
Esperançoso
Em Fé
Tendo em Deus todo o descanso
de que preciso e estímulo necessário

Vivendo...

sábado, 11 de junho de 2011

Salmo


Oh Como é boa a suavidade
dos girassóis
que se unem uns aos outros
a olhar para o sol, nenhum quer mais
sol que o outro irmão
e sabem que o vento raramente
lhes inclina as vestes para o chão
porque se amparam como se fossem
uma parede
verde com desenhos amarelos
de criança para sempre.


11/6/2011


Inédito de J.T.Parreira

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Vento


Vento que sopra,
vai onde quer.
Vento, sopro divino,
faz de nossas vidas
caminhada divina,
direção incerta
para uma vida
plena, abundante e certa.
Vento que sopra onde quer.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Palavras Ferozes



Há palavras impossíveis de escrever”

Mário Cesariny

Há palavras impossíveis de escrever
fazem ranger
nos ossos a realidade
sujam os olhos
como um mau cheiro
corrompem os ouvidos
Morte é uma dessas
impossível
se disser, a morte da criança
abala como um tremor de terra
o coração
terrível a palavra Abismo
que às vezes sentimos nos joelhos
ou a Queda que fez a solidão
no Paraíso.

J.T.Parreira

sábado, 4 de junho de 2011

Poietiké

Jurujuba - Niterói - RJ, num dia de solidões
Se a poesia é faca e é forca
a poesia também é mortalha
é a plúmbea bala que estraçalha
o coração sol-crispado de Lorca
é a flor que ofende e enfurece o canalha...


Ela incorporou o feio ao discurso,
a poesia é Lírica e também é Porca
linda deusa que hoje admite a falha


É algo inútil, é uma Vida, é um monte de tralha
é uma dose de palavras que na goela do papel
o poeta emborca


é banco de areia onde - cansado do oceano -
um desesperado encalha.


Sammis Reachers
(texto e imagem)
*Poema antigo, anterior à minha conversão a Cristo, publicado no Livro da Tribo

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Confissão

Sou pequeno.
Nada sou.
Nada sendo
me reconheço
diante de ti
meu Senhor.


Entrego-me,
confesso-me
pecador
caminhando errante
voltando arrependido.
Perdão Senhor.
Transforma-me Senhor.
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