quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

OS PASTORES DE BELÉM


“…Vamos beijar os pés nus
do que semeia nos céus …”
Gomes Leal, “Os Pastores”

traziam cajados e liras afiadas
nos fins de tarde
conheciam a música as rugas do campo
conheciam como o sol e as estrelas
se sucediam nas horas
e faziam sombra nos cajados
esta era a música que dedilhavam:
o som branco
tinindo na lã

na voz dos anjos uma canção nova,
um salmo ao que semeia nos céus
e cujos pés nus
acabaram de ser
colhidos da terra

Rui Miguel Duarte
27/12/12

Canção atômica do Natal tardio



Canção atômica do Natal tardio

Sammis Reachers

Há um Natal suspenso
nos gatilhos e bolsas de valores do planeta,
na dependência de o assassino
disparar ou não

Espírito Santo
esparja a canção
pela paz
deflagre a epidemia
de armistícios

Há um Natal envenenado
na química porca & barata
de uma pedra de crack

Mas Senhor, Espírito Santo
espalhe a paz pela canção
dissolva os contratos de escravidão
esculpidos em pedra

Há um Natal latente
na mente de um embriagado
que Hoje cisma: Hoje deixarei
esta bebida e aquela prostituta
e voltarei para casa
e se a porta não se abrir,
sequer neste vasto dia
que é Hoje, deitarei
na serventia como um cão,
como um Bartimeu que brada
até cegar-me mudo de gritar

Espírito Santo,
cante a canção que rompa
que abra que despedace grilhões
e grileiros de corações
com a sua (ir)radiação

cante a canção que cumpra
as canções de Isaías e Davi
e de cada qual dos quais
o mundo não era digno

Espírito artefato Santo nuclear
expluda a estrela
no lugar exato,
o miolo da treva,
para rasgar de nós
o silêncio-nossos-mantos

contempla-nos, cá no pó
beduínos dispersos no deserto
entoe a canção atonal & auroral
da estrela-que-anda
e faz todos os descaminhos da Terra,
com nossas torrentes de pranto
convergirem até o oceano-Ele

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

EU VI UMA CRIANÇA




“Et j'ai revu l'enfant unique”
Paul Verlaine


Ela abriu meu coração para tirar a morte
lá fora os pastores aguardam a sua vez
para entrarem com os rebanhos
a manjedoura
não revela mais do que um menino
que quebra o silêncio com um rumor
de choro
que molda os tenros lábios
ela está ali, por dentro da estrebaria
e dá ternura às ruínas.

18/12/2012

 © J.T.Parreira

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

UM CAFÉ À BEIRA-MAR

Marcámos encontro 
sobre um café paradoxal
trago comigo o teu olhar 
que empresto ao farol 
cuja torre tudo sobrepuja
com ela crescemos até atingir o mar 
mas nunca o céu
este está reservado ao olhar do farol
aonde o teu olhar, com a largura do mar,
é capaz de subir

marcámos a hora num riso de areia
e aí fizemos castelos
conquistados pelos dedos 
da criança,
a criança que bebemos na chávena 

no farol há um pouco de nós
há tudo de nós
somos aqueles que seccionam o horizonte
e o esparge no vapor
somos aqueles que se elevam
nessa respiração quente
quando a maresia tudo já de nós cativou

é na fina espuma que somos 
toda a praia e o vento
quanto decidimos ser
e o café à beira-mar não é
paradoxal 

Rui Miguel Duarte
9/12/12

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A Poesia do Natal - Antologia reunindo o melhor da poesia evangélica sobre o Natal de Jesus Cristo



A Poesia do Natal
Antologia

Poetas Evangélicos de ontem e de hoje
escrevem sobre o Natal de Jesus Cristo


Já desde inícios do século XX que o Natal, onde a cristandade comemora o nascimento epifânico de Jesus Cristo, vem perdendo seu caráter sagrado ou religioso para ganhar paulatinamente as cores baratas do consumismo e da secularização, esvaziamento este algumas vezes configurado na personagem ‘Papai Noel’, e também em toda a ritualística de glutonarias e bebedeira que a cada ano se repete.

Em tal clima de crescente alienação, é com imenso prazer que ofertamos ao leitor esta antologia de poemas natalinos. Os poemas aqui coligidos são um chamado ao louvor e à adoração, e à contemplação do verdadeiro espírito do Natal. E também, em alguns de seus melhores momentos, à reflexão crítica sobre este viés secularista que as comemorações natalinas têm assumido, mesmo entre os ditos cristãos.

Estão aqui presentes os nomes exponenciais de nossa poesia evangélica, nomes tais como Mário Barreto França, Myrtes Mathias, Gióia Júnior, Stela Câmara Dubois, Joanyr de Oliveira e outros, ao lado de excelentes poetas cuja obra tem sido olvidada, caso de um Jorge Buarque Lira, um Benjamin Moraes Filho, um Gilberto Maia, entre diversos outros bons exemplos.

Esta obra não objetiva lucro financeiro algum, circulando apenas como e-book gratuito, não podendo ser comercializada de nenhuma maneira. Pois nosso propósito é o mais nobre, trazer à luz versos que andavam dispersos e submersos em periódicos de difícil acesso e livros raros e fora de catálogo, livros esses que provavelmente jamais serão reimpressos, condenando assim a grande poesia de muitos autores evangélicos ao virtual esquecimento. Não! A rica poesia de inspiração cristã desses bardos merece ser divulgada.
Eis então aqui esta nova e necessária antologia, uma homenagem ao nosso Senhor e uma celebração ao seu Natal, um presente aos leitores de todos os credos e religiões, e um merecido tributo aos nossos queridospoetas de Deus.

Leia, divulgue e compartilhe!

Sammis Reachers, organizador

Para ler o livro online ou fazer o download (213 págs., em pdf) no site Scribd, CLIQUE AQUI.

Para fazer o download pelo 4Shared, CLIQUE AQUI.

Lista dos autores antologiados, por ordem de entrada: José Bezerra Duarte - Jorge Buarque Lira - Assis Cabral - Gilberto Maia - Bolivar Bandeira - Stela Câmara Dubois - Jonathas Braga - Manoel da Silveira Porto Filho - Alfredo Mignac - Isnard Rocha - Albérico de Souza - Mário Barreto França - Benjamin Moraes Filho - José Silva - Lourival Garcia Terra - Thiago Rocha - José Britto Barros - Gióia Júnior - Daria Gláucia - Joanyr de Oliveira - Myrtes Mathias - Ivan Espíndola de Ávila - Rosa Jurandir Braz - Silvino Netto - Pérrima de Moraes Cláudio - João Tomaz Parreira - Eliúde Marques - Gilberto Celeti - Filemon Francisco Martins - Israel Belo de Azevedo - Geremias do Couto -Edgar Silva Santos - Brissos Lino - Natanael Santos - Josué Ebenézer - Rui Miguel Duarte - George Gonsalves - Antonio Costta

Caso tenha dificuldade em realizar o download, solicite-me o envio por e-mail:sammisreachers@ig.com.br

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Atrasado


Carlo Carrá, O Cavaleiro Vermelho
Atrasado

Tenho pressa
De nunca mais ter pressa
Pressa de paz

Corro desde a 1° vez
De shopping centers e afetações
E são milhares deles
Em meu circuito,
Meu circuito-dia

Os ônibus me levam
Para baixo meio e cima
E nunca vou a lugar algum
Mas corro como corro
Corro como numa tela
De Carlo Carrà

Fujo
De onde Morpheu recita
Todo o léxico do inferno
(dito poema) em meus ouvidos
Ao som de Radiohead

Corro com tudo o que posso
Com minha perna quebrada
De quando caí do teto de casa
Com o sedentarismo que me combate
Corro com minha vesícula extirpada

Corro para o Dia
Sem afetações e shoppings centers
Corro para minha cadeira cativa
No estádio celeste
Antes que algum bem-intencionado irmão calvinista
A ocupe desde sempre
(‘pardon, monsieur, mas
Este lugar está reservado desde a fundação de tudo’)

Corro em direção ao Colapso
Desta minha carne
Com minha Bíblia decomposta
Em 30.000 filipetas
Que distribuo, gratuitos ingressos
Para o Pai de todos os Espetáculos,
A presença ante a eterna estréia
Do Coro Celestial

Corro do Pecado e da Morte
E do Inferno

Heróico em minha irrelevância,
Marcho sobre a cabeça de todos eles
Em meu caminho

Eu sou Ulisses e Sansão,
Davi e Tupac Amaru,
Tiradentes e Ben Gurion
Sammi Maluco da Beira Rio
Que voa em direção a Cristo

(e) Eu tenho pressa→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→

Sammis Reachers

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O FIM



O FIM

Naquele Dia
toda a gama dos espectros eletromagnéticos
inverter-se-á;
os sons soarão de revés,
as luzes brilharão ao contrário

quando o Anjo tocar sua grande flauta

a rEaLIdaDe inteira se enrolará
como papiro incendiado, numa
omni-vasta-espiral-big-crunch

o pau-de-arara o garrote a dama-de-ferro o tronco o chicote
nunca nunca nunca mais

Sammis Reachers, no livro Poemas da Guerra de Inverno

domingo, 21 de outubro de 2012

NO DIA EM QUE ME QUISERES



No dia em que me quiseres
carregar através da escuridão
de um dia que deve ser apenas
um segundo
No dia em que a seda em Tuas mãos
me revistam a nudez
dá-me aquele tempo- que sempre
puseste ao meu dispor – de assinar
a última data num poema.
E falaremos no caminho das palavras
que me deres.

20/10/2012
 
© J.T.Parreira

domingo, 14 de outubro de 2012

O PÃO


τὸν ἄρτον ἡμῶν τὸν ἐπιούσιον δὸς ἡμῖν σήμερον
“o pão que provê à nossa subsistência dá-nos hoje”
Evangelho Segundo Mateus 6:11

O pão desce sobre a substância
diária pela neblina fresca desliza
suspendendo o deserto que cresce
em que habitamos
este é o pão, tome o lugar
sobre a mesa antes de o sol nascer
e pouse sobre a essência da fome
dá-no-lo da tua mão
que criou o dia de hoje
dá-no-lo quente e a estalar a côdea dura
das nossas bocas

Rui Miguel Duarte
15/10/12

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

VERBUM TREMENDUM




VERBUM TREMENDUM

“...Ao que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.” Ap 2.17

Irmão cristão, operário da fornalha,
- combata até o fim:
pois no fim Ele terá um novo nome para ti,
um nome oculto como o coração de um sol,
um nome que livro algum dos muitos deste mundo,
ou mesmo sua totalitária soma, comportaria.

Um nome que é secreto e seu, e é todo um Universo,
cujas letras são como berçários de estrelas.

É preciso Eternidade para que se pronuncie tal nome;
no Tempo, a pronúncia de tal termo nunca chegaria
a termo, pois seria infinita.
No Eterno, ele é infinito e ao mesmo tempo infinitesimal,
pequenino, circular como o eterno retorno
de que fala a Filosofia, selado como um Jardim secreto,
Éden feito de signos, melhor, omnisignos.

Já que é-nos impossível conceber tal palavra,
tal Singularidade, a melhor forma de imaginá-la
é como um Anel:
Teu novo nome, irmão, é um memorial
da última, perfeita e eterna Aliança.

Sammis Reachers

sábado, 15 de setembro de 2012

QUANDO OS TEUS OLHOS DESCEM


 (Inédito)

Teus olhos são todas as cores, brilhos
nas poeiras cósmicas, cidades
nocturnas nas galáxias, luzes no caminho
do tunel de nenhures.
Quando descem por mim.
Teus olhos são escuros, Teus olhos
são esmeraldas que os peixes respiram
Teus olhos são esculturas azuis no céu
mais próximo de mim. Para eles caminho.

15/9/2012

 © J.T.Parreira

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Ansiedade


Henrique Gabriel
Ansiedade

que a Paz expluda no Caos
como uma granada de nitrato de Nada
recheada de dilacerantes grãos de Nihil

paralisando com silêncio estrondoso
Tudo

sopro que desalme todos os entes

Ragnarök, Mahapralaya, Mappou, Armagedon,
Apocalipse e todos os seus Nomes:
a mim, a mim meus irmãos!

Andarilho Nazareno, grande Omega Lord:
tornai!

Sammis Reachers

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O QUE O ROSTO

“o meu rosto era resistente como uma pedra”
Isaías 50:7

o meu rosto é esculpido de espinhos
não se vira às intempéries
nem faltaram mãos para lhe golpearem
o sangue foi mordido pelos ventos
de pontas rombas não tem pétalas nas maçãs,
o Senhor o fundou como uma pedra serena dura
o meu rosto escorreu o esputo
dos meus ofensores mas nada o amoleceu

uma pedra é o meu rosto
as lâminas contra ele disparadas
quebra, pedra dura serena sobre pedra
à trepidação das vozes dos meus acusadores

o Senhor o fortificou de malares oblongos
e nele pintou a rosa

Rui Miguel Duarte
05/09/12

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Antropotrágico


Para Francisco Carlos Machado

norte, sul, leste, oeste,
zênite e nadir:
seis pontos cardeais
cujo exato centro
é o meu Colapso

Deus Absconditus, Pantocrator ou Ex Machina, eis-me:
sou um cristão, um bichinho, um kierkegaard, uma angústia

trapo rudemente bordado
no tecido do espaço-tempo
aguardando que Ele, o Teu Filho A(r)mado,
volte e rasgue estes panos,
despedace este maior & derradeiro Véu.

31/08/2012

Sammis Reachers

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

SALMO 130



Como do fundo de fossas oceânicas
clamo-te, ó Deus, a minha voz
sobe à superfície do fundo das regiões 
do desespero
Sei que Tu, Senhor, não guardas na memória
os meus pecados
nas tuas mãos teces o linho
que me veste de perdão
a minha alma fia o tempo
qual Penélope desfazendo os dias
pelo amado e espera
mais do que a sentinela com os olhos
molhados pela aurora.


(de "Falando Entre Vós com Salmos -Cânticos Peregrinos 120-134" )
 
© J.T.Parreira

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Um amigo em Nazaré


Um amigo em Nazaré

Teu sorriso tem essa coisa, sabe,
de expandir a Realidade

Teu amor, fúria e brisa,
cata-me pelo chão, me constrange
a continuar

Tuas Palavras me multiplicam,
ó Foz do Rio da Vida,
meu Ombro, meu Amigo

"Levou-me à casa do banquete, 
e o seu estandarte sobre mim 
era o amor."
Cantares 2.4

Sammis

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

ANOTAÇÕES PARA UMA BIOGRAFIA DE SANGUE


                                ANOTAÇÕES PARA UMA BIOGRAFIA DE SANGUE

                              Pensei estar vendo

                              algo mais que a minha                           

                              própria sombra,

                              uma luz difusa

                              que não  mostrava

                              mais que alguma deformidade

                              do meu interior.



                             Tentei acordá-los,

                             pedir-lhe para dizerem algo,

                             mas não, o sono abateu-os

                             com sua nuvem de chumbo

                             e eu aqui tão próximo

                              da morte deles.



                              Essa mordente angústia

                              foi o ápice de todo o tempo

                             durante o qual

                             as coisas da minha vida

                             e da minha morte

                             cumpriam as profecias.



                              Esse momento é o do espelho

                              em que sozinho me vejo

                             debruçado no abismo da  sepultura.



                             ( Paraste de ouvir-me,

                             porque já não me falas?)

                             Senti todas as forças

                             convergirem sobre minhas costas,

                             O mundo virá sobre mim,´

                             secretamente e da maneira mais sórdida.



                              Mas os poderes do céu

                             permanecem junto comigo

                             ainda que sob os espasmos

                             desse brutal silêncio.








segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Peter Pan


Perfile as tropas, Sininho.
Não há volta para nenhum de nós;

Crianças, nossas ações
são as ações de homens desesperados.
Desconecte os Bulbos de Realidade,
mergulhe tudo no Sonho.

Ele é um anjo caído, o que se nos opõe;
sequer podemos vê-lo,
conhecer-lhe o plano ou a extensão do braço;

No Sonho e no Sonho apenas
é o único lugar onde poderemos
assassinar o nosso tão injustamente 
poderoso inimigo.


Sammis Reachers
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