© Jindřich Štreit
Sentar-me no banco 023 do
Campo de Santana
observar as cutias
equilibrando-se sobre duas patas
para roer amêndoas ou um
mapa do céu
que algum apressado
estudante deixou cair
Pensar em você, Noivinha
de Cristo,
escrever o mais lindo
poema de amor
de toda uma década, de
toda esta
camonicamaleônica língua
Mas não; e se não posso
tê-la, que a Literatura
não me possua o poema, que
ele morra arquétipo,
abortado em mármore na
tumba
das perfeições platônicas.
Os Imperativos Morais,
esses radiosos
demônios concebidos na
Luz,
a tudo manietam-me,
e dizem
resista soldado
combata soldado
morra combata resita
combata morra morra
Estou morto, cães de
guarda,
sou um de seus santos, sou
uma sua besta de carga.
Teus olhos estelares,
ó Princesa do Planeta
Koryander
são a magnum opus de
Cristo,
sóis concentrados cujo
fogo
queima sem arder
abrasando até as cinzas de
cinzas de cinzas
de meu coração,
como quem chama Lázaro
para fora...
Gosto de quieto
observá-los
como um iogue observa uma
mandala
em busca de libertação, de
samadhi
ou como um exausto soldado
de Cristo
observa todo o esplendor
do Fim
deste sistema iníquo de
coisas
que
nos separam,
ó grande apocalipse meu.