segunda-feira, 31 de outubro de 2011

RUTE

“Rute foi então para os campos e pôs-se a apanhar as espigas que os ceifeiros deixavam ficar”
Rute 2:3

colhe
com os olhos que tem nas mãos 
o que outros deixam ficar
ou não vêem colhe espigas soltas
como pontas de novelos

é o cuidado dos bicos longos 
do flamingo posto nos dedos
Rute sabe que colhe 
onde não semeou
nos campos de Booz
sabe que colhe o pão que
lhe disseminará na mesa de cada dia

mas não sabe que nesse gesto
de ceifeira pobre semeia
brasas de sol 
em outros olhos que têm mãos 

29/10/11

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Um soneto de Joanyr de Oliveira


Klee, Legend of the Nile

DA ESQUIVA PALAVRA

Se a palavra se esquiva, vou buscá-la
com paixão, com desvelo e reverência;
nunca sei se num mestre ou numa vala,
porque sempre aceitei sua inocência.

Sei do verbo nas fossas e nas chamas,
mas prefiro da moeda o lado oposto:
as palavras são virgens ou são damas
a oscular o silêncio de meu rosto.

Navegante da noite, me maltrata
o nosso corpo-a-corpo, a nossa luta
em que tanto rejeita quanto é grata.

Essa lânguida fêmea... ela se oculta
pelo ermo de meu ser, e me arrebata
intangível, fugaz, plena e absoluta.

in Tempo de Ceifar

sábado, 22 de outubro de 2011

AQUELE DE CUJA MÃO FUGIU O ANJO, novo livro de poemas de J.T.Parreira para download gratuito



Para os apreciadores da dita poesia evangélica, desnecessárias são as apresentações à obra de J.T.Parreira. Mas para proveito de todos, devemos prestar os devidos esclarecimentos. Poeta evangélico lusitano, com já mais de quatro décadas dedicadas à poesia, JTP é autor de seis livros de poesia e tem participação em diversas antologias; poemas vertidos para o inglês, italiano, espanhol e turco. Foi um dos deflagradores, juntamente com o poeta e pastor brasileiro Joanyr de Oliveira, do movimento pela Nova Poesia Evangélica, que a partir das décadas de sessenta e setenta do século passado insuflou um benfazejo espírito de renovação e atualização em nossas letras. Faço minhas as palavras do economista e escritor João Pedro Martins: “João Tomaz Parreira é um autor  incontornável no escasso universo da literatura feita por evangélicos. A sua poesia é Poesia Gourmet.

É pois com prazer que apresentamos um novo e-book de poemas de nosso irmão. O livro Aquele De Cuja Mão Fugiu o Anjo reúne 30 poemas de inspiração cristã, plena substanciação da fina literatura que tem consagrado o autor como um dos maiores poetas evangélicos de nossa língua.

Para baixar este livro, CLIQUE AQUI.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Contador de Estrelas



Esta noite vou contar as estrelas”
Brissos Lino


Faço questão de continuar a contar estrelas
elas
sabem quando um poeta invade
o seu reino de trevas aparente
-porque não vemos o leite das eternas manhãs
das nebulosas e galáxias- e tremem
muito mais
e se pudessem ficar fora
do controle de Deus, viriam até nós
envelhecer nos nossos olhos.

20-10-2011

J.T.Parreira

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Encontro com o poeta Rui Miguel Duarte



No dia 18 deste mês estive no luminoso bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, para um breve encontro com o irmão, poeta e professor lusitano Rui Miguel Duarte. Rui é formado em Línguas e Literatura Clássicas, e esteve no Rio para participar do XVIII Congresso da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos. 


Na ocasião, tive a honra de ser presenteado com três pequenos tesouros poéticos: O livro Muta Vox, do próprio Rui, que reúne a fina produção do autor; o livro Encomenda a Stravisnky, primorosa edição bilíngue (português - espanhol) de nosso mestre J.T.Parreira; e a oportuna antologia Nada Onde Pousar o Sonho, iniciativa do Desafio Miquéias de Portugal, congregando a obra de onze poetas evangélicos portugueses, livro com design gráfico digno de nota (ao estilo livro antigo, vide imagem).

Meus abraços fraternais ao Rui, agradecido pela felicidade de poder continuar estreitando os laços que unem poetas evangélicos de Brasil e Portugal, tradição que remonta ao tempo do saudoso poeta Joanyr de Oliveira, quando, em sua coluna na Revista A Seara (na década de setenta do século passado), mantinha já profícuo intercâmbio com bardos lusitanos como J.T.Parreira e Brissos Lino, dentre outros.

A poesia evangélica segue cumprindo sua função de evangelizar, edificar e promover a unidade do grande corpo de Cristo!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Carta Origem da Antologia da Nova Poesia Evangélica

Carta do poeta Joanyr de Oliveira para o poeta JTP, na qual se começava a estruturar o sonho de uma Antologia da Nova Poesia Evangélica, concretizado com a publicação da mesma em 1977, no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

As Cartas


Eram cartas sem resposta
apenas num sentido, como as raízes
irrompem da terra na flor vertical
impossíveis de responder, as cartas
ardiam no pergaminho, como a sarça
a viver num fogo celeste
e sem peso
vertiam-se na voz de quem as lia
o céu está nas cartas, é um lugar
na terra, em Éfeso ou em Corinto.
 8/10/2011 

J.T.Parreira

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Pedro Valdo

Homem rico, nobre cidadão,
cristão de fé e grande devoção,
Pierre de Vaux, para nós Pedro Valdo,
fora, pela morte de um amigo, impactado.
Vá e vende tudo, depois segue a Jesus,
ele dar-te-á vida, caminharás em sua luz.
Impactado pela morte, fez dela transformação,
o que antes era luxo, converteu-se em benção.
Mover de Deus na história, Valdo nos transformou:
simplicidade e devoção, como legado nos deixou.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Somente por Jesus viver em ti



Somente por Jesus viver em ti
Podes amor frutificar
Alegria comunicar
E paz transmitir.
Somente por Jesus  te amar
Podes perfume ao redor espalhar
E beleza contagiar.


Somente por Jesus te escolher
Podes fé receber
Por ela viver
E mais florescer.
Somente por Jesus te remir
Podes teus irmãos atrair
E sua graça exibir.


Somente por sua revelação
Alcanças perdão
E desfrutas tão doce Salvação.
És um Jardim fechado
Pelo Mestre cuidado
Tuas cores o exaltam
Tuas águas jamais faltam.


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Hiroshima



Inédito de J.T.Parreira


Os cabelos cairam de manhã
de cabeças devastadas
como a cidade, acordaram
para a deformação
corpos acesos a dez mil graus
E ninguém viu nada em Hiroshima
nada
por causa da cinza
de dez mil sóis de luz e vento.

3/10/2011

SOLDADO


Pouco importa se em Delfos, Kinshasa
Ou no delta do Mekong
Que eu seja uma asa
Para os mutilados

Que a bala que ceifaria o inocente
Pare antes em meu peito
Ou seja interceptada pela mão
De Teu anjo

                                     - Tanto faz,
                                       Eis-nos aqui

Trago minha sede
Até os Teus regaços
Toda a minha sequidão
Deito diante de Ti
Rompo meus 32 anos de crepúsculos
Para chegar a Ti, Amanhecer

Sou dunas a deambular no deserto
Denunciante de toda a usurpação
Assassino das raposinhas do Caos
Por Ti, que me moeste
E vaso novo me formaste

sábado, 1 de outubro de 2011

FUTURO PERFEITO

“Cantar 
é empurrar o tempo ao encontro das cidades futuras”
Carlos de Oliveira

se cantamos 
cortamos a vida 
deixamos para trás 
o rasto de nós
perdemos ao longo da terra
as lágrimas
o que perdido estava 
deixámo-lo ir na corrente
para onde escorriam os nossos olhos

tínhamos um encontro ali
marcado com as cidades futuras
para isso empurrámos o tempo
e arrancámos o espaço 
no coração em sangue
nos lábios ainda tenros 
cantar 
é percorrer ruas 
ainda por abrir

25/09/11

DA MATÉRIA DO POEMA

“Subi ao alto, à minha Torre esguia,
Feita de fumo, névoas e luar”
Florbela Espanca, “Torre de névoa”

o meu poema não habita
em torres de névoa não há espera matinal
por D. Sebastião
morreram todos eles para sempre
e os seus corpos secaram
nos dentes dos chacais
em Alcácer-Quibir
no meu poema não ardem baixo os luares
sobre as águas

no meu poema há só o sol a prumo

não há Ítacas, Társis nem Índias
de fuga ou nostalgia
há a amplidão nítida dos rios
que duma mão nascem e na outra desaguam

no meu poema há a outra margem
uma terra toda inteira
ainda sem nome nem padrão
de descoberta

30/09/11
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