quinta-feira, 18 de março de 2010

VALE DA SOMBRA DA MORTE


“Perguntou-lhe Simão Pedro: «Para onde vais, Senhor?» Jesus respondeu-lhe: «Para onde eu vou, tu não me podes seguir agora, mas hás-de seguir-me mais tarde.»”
Evangelho de João 13,36 (versão EA Bíblia para todos p. 2133)


Não podes, querido amigo,
seguir-me agora
sabes, tenho uma estrada diante de mim
que tu não conheces
pés nenhuns foram nela ainda
experimentados
o couro de sandálias nenhumas
nas suas pedras jamais se gastou

Querido amigo,
o céu aqui não é de açucenas
os penedos são gigantes espessos
ao passarmos rente a eles
acendem um véu negro no rosto
do abismo
o chão não é de pétalas
tem arestas é pontiagudo
como pregos que não sossegam
o sangue

Sei que nele
há um vale da sombra
é todo o céu e toda a terra
em peso sobre a minha cabeça
sombra da morte mais temível
do que a própria
morte

esse vale foi moldado à forma
rósea do meu corpo
o meu sangue foi-lhe
desde a Eternidade prometido
poderei eu estancá-lo?

Só eu,
querido amigo
só eu posso atravessá-lo

deixa-me ir, querido amigo,
até à outra fímbria do vale

lá as águas dos riachos
têm a cor do sol
então ao meu chamado virás
dirás que vens da minha parte

e no prado dos teus olhos
desenrolar-se-á,
até o perderes de vista, o verde

18/03/10
Rui Miguel Duarte

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