sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Outro Salmo 121
e à sua volta anéis
de nuvens, circulando
com átomos tristes de água
Os meus olhos procurariam
nada, um mergulho no escuro
mas um pé em falso
romperia a ténue película
que me sustém a vida
Nos meus montes peço socorro
de onde virá a mina de oiro
a fonte dos cristais
da pura água
mas um salto no escuro
e seria o fim
O meu socorro vem do Senhor
que fez de céu e de terra
esta distância
que trazem os meus olhos.
31/12/2010
Inédito de J.T.Parreira
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
CONTAGEM
“Abraão lança os olhos
ao lume longínquo”
J. T. Parreira, “Contagem de estrelas”
Dissera Deus a Abraão
o pai de miríades de nações,
que contasse as estrelas
e contaria os pés
dos filhos
e dos filhos dos filhos
essas seriam as contas
amplíssimas das areias
mais do que as águas do mar
ao retirarem-se
diante das marés
dos filhos, das nações amplíssimas
do seu pai, avançando
sobre a palma da terra
e as costas dos oceanos
conquistadores dos continentes e ilhas
Abraão que contasse
que lançasse os olhos
na demora dos lumes
do céu
E Abraão contou
Abraão contou
os intervalos entre elas
Abraão contou os pêlos
da barba branca
e os intervalos
entre os cabelos
que lhe faltavam
24/12/10
MEU CAVALEIRO EM BATALHA
Não Te conhecia Cavaleiro
Guerreiro em Batalha
Resfolegando vingança
Em Tuas narinas acesas
Nunca Te imaginei montando
Um querubim e voando
Com espada em punho
E decisão de vitória
É me custoso entender
Que tanto empenho
Fosse por mim criatura
Das menores em Teu panteão
Não suportaste ver-me
Estrado dos pés de pessoas
Que se queriam pôr maior
Do que Tu és
E desceste de Teus céus
E Te puseste em pé
Deixando Teu trono
Mas não Tua majestade
E afugentaste aqueles
Que me queriam afugentar
É me custoso entender
Que tanto empenho
Fosse por mim criatura
Das menores em Teu panteão
Foste (És) para mim Rocha
De proteção Cidade
De abrigo Escudo
Força a mim desvalido
Por outros tido desprotegido
Quando clamei vieste
Em meu socorro
Trazendo alento
Se fazendo meu amparo
E é me custoso entender
Que tanto empenho
Fosse por mim criatura
Das menores em Teu panteão
Saíste em conquista
Conquistaste meus inimigos
E circunstâncias adversas
E os destruíste
Saíste em conquista
Conquistaste a mim
Conquistaste meu amor
Eu Te amo Deus
Da minha força
Prostrado a Teus pés
E grato a Ti digo
Eu Te amo, Deus da minha
Força!
Só um pedido mais
Por favor, ouça-me:
Que eu abra minha
Boca para falar de Ti
De Tuas grandezas
Enquanto eu viver
Como um filho
Sentindo-se protegido
Digo a Ti: Eu Te amo!
Luiz Flor dos Santos (poema do projeto POEMAS DOS SALMOS para publicação)
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
OS LÍRIOS
“Reparem como crescem os lírios do campo! E eles não trabalham nem fiam. Contudo digo-vos que nem o rei Salomão, com toda a sua riqueza, se vestiu como qualquer deles.”
Evangelho de Mateus 5,28-29 (versão A Bíblia para todos)
Falo-vos da corola
dos lírios
como as fímbrias do manto
do rei
assim foram vestidos
que rei alguma vez
fia o seu próprio manto
ou precisa de apressar o olhar
para o interior de todas as montras
nos centros comerciais
em busca de trajo
em busca de um vestido de noite?
os reis vestem constante
trajo de gala
todos os seus gestos são
liturgia de fausto e cerimónia
e os lírios,
alguma vez soubestes
que precisem de estugar o passo
de se precipitar na descida
para o metro não vão os pés diferir-lhes
as horas, ou sejam devorados nos magotes
das gentes?
alguma vez ouvistes
que tecem a malha das pétalas abertas
ou a trama do seu destino
os lírios?
não elaboram o tempo
a procurar terra bastante
para as raízes
diante deles
empalidece o ouro
do manto de Salomão
mostro-vos os lírios,
que vos tocam com cores limpas
as mãos
são um pequeno sol
na largura dos campos
que vos pudesse amanhecer
o coração
Rui Miguel Duarte
9/12/10
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Um poema de Mário Barreto França (a propósito do Dia da Bíblia)
QUANDO EU LEIO, Senhor, o teu Livro Sagrado
Na inspiração de Jó, Isaías, Amós,
Sinto que vivo estás no texto consultado
E escuto a tua voz!...
Quando perlustro ansioso o Novo Testamento
E leio as preleções sublimes de Jesus,
Eu noto que se aclara o meu entendimento
Por tua excelsa luz...
E essa voz sempre amiga e terna me convence
Das faltas, da justiça e do juízo final,
Fazendo-me saber que só a Ti pertence
A vida universal.
Quando eu leio, Senhor, teu código divino,
Que exalta a fé e o amor de Paulo ou de Davi,
Eu sigo sem parar meu plácido destino,
Com o pensamento em Ti!...
E peço humildemente o teu auxílio forte
Para vencer o mal, para fazer o bem,
Levando a quem soluça entre as sombras da morte
A esperança do Além!...
Pois revelaste ao mundo a tua Maravilha
Através de lições desse livro sem par,
Em que a Ciência, as Leis, as Artes, tudo brilha,
Para Te consagrar...
Quando eu leio, Senhor, teus santos estatutos,
Desde a primeira frase à última oração,
Sinto que estás em mim, em todos os minutos
De minha adoração!...
Ensina-me, portanto, a dizer a verdade
Que canta no teu Livro a aleluia do Amor,
Para que o mundo veja a tua santidade
- Tua glória, Senhor!
No livro O Louvor dos Humildes (1953)
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
As segundas-feiras geralmente pra mm é dia de descanso. Fico geralmente alegre poder não fazer nada de urgente. Mas quando me demoro demais sem fazer nada geralmente fico triste e passo logo a querer as terças-feiras... Entretanto prefiro que por enquanto seja assim, pois não há melhor sabor do que poder escolher fazer ou não fazer. Hoje é segunda-feira. Será que deveria ter escrito essas linhas? Tolas pra você, certamente. Como estava sem fazer nada, escolhi que sim. Exercer o delicioso poder de escolher.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
PAULO DE TARSO NA PRISÃO
“… A golpes de paixão, tento passar…”
Miguel Torga, “Emparademento” (in Orfeu Rebelde)
Emparedado tentei
já desfazer as cadeias
que me puseram no degredo
as mãos e os pés
estão unidos com os ferros
e transmitem à boca o pedido
de um grito
que a noite eleve
para lá das grades
ao terceiro céu, e que
me traga a frescura do consolo
pois sei que as cadeias não são negociáveis
para os que seguem Cristo,
nem tão pouco feitas perpétuas
ou elas cedem, ou o muro cede
doem afinal ainda menos
do que o desespero
de se terem incrustado
nas mãos e nos pés,
do que um destino tumular
das cadeias do meu avesso,
que me esmurra
como um doido varrido e que
a golpes de paixão, tento passar
é aí, no recesso
que mais emparedado estou
por durante um minuto
ter desaprendido
de cantar
16/11/10
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
A Alegria Já Está
A alegria está no meio da dor.
E o poeta canta a dor.
O historiador cataloga entre alguma alegria
Longos períodos de dor.
Há alegria sim em nosso mundo, mas o
Muito do que era bem transformamos em dor.
Bem falou o pensador quando disse em
Suas meditações:
Eis o que tão somente achei: Que Deus fez
O homem perfeito, mas este se meteu em grandes
Astúcias.
Nos movemos entre cardos e espinhos
Frutos de nossas escolhas ilusórias
De onde nos viria uma dose cavalar de alegria?
Virá do futuro, mas já começa aqui mesmo
No presente.
Sofre o homem por quê?
Busca-se a esperança debaixo do sol
E o alcance desta não é mais do que um tiro de
Pedra dado por uma criança singela nas
Primeiras primaveras da vida
Vou de novo concordar com o sábio do livro dos
Salmos para muitos saber antiquado:
Elevo meus olhos para os montes, de onde me virá
O socorro? O meu socorro vem do Senhor que fez
O céu e a terra.
Do Senhor que me guarda
Do Senhor que é a minha sombra de proteção
Do Senhor que não permite a meus pés vacilar
Do Senhor que não dormita ao me guardar
O poeta já pode cantar a alegria
O profeta há muito mostrou o caminho da alegria
O poeta já pode cantar a alegria
O povo do poeta já pode cantar
Junto com poeta pode cantar.
Autoria: Luiz Flor dos Santos, pastor na Igreja Batista Fundamentalista Cristo é Vida.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Em memória de mim

aqui vertido no pão, carne
que amanhã adornará a minha dor
No vinho considerem o brilho
do meu sangue
Façam-no antes que a cinza
apague o fogo da memória
e como migalha após migalha
este pão caia das mãos sujas
sob as mesas, e este vinho seja um dia
apenas vide ressequida.
Poema inédito de J.T.Parreira
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
AGOSTO
Ouço o uivo das ruínas,
As árias da Solidão...
Restaura o Farol
Que os vagalhões derrubaram, Senhor;
Contra o vil rugido das vagas
Que me assassinaram o sono
Ruja Teu Espírito
(agora lhe rogo como uma criança)
Envie brisa
Que crie colchões de ar
Sob mim
Para que eu largue os fardos e
flutue
Manifesta, peço-te
Um pingo do Céu
Aqui na ilha do que sou
Restaura as pontes
E cala o vulcão
Estanca o sangramento
Antes que
Antes que fim
Porque me deste um assassino por companheiro
Na estrada?
Para que eu aprenda a perdoar?
Tira a balança de minhas mãos, Senhor,
Que sou contumaz pecador
Ponha em minhas mãos
O amor
Teu amor
E todas as Tuas
Sementes
Sammis Reachers
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
As várias faces da (web) poesia - O uso da internet pelos novos poetas
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Porque agora dói

quando a dor não poderá mais me tocar

eu vejo esta ilha, que é um continente, que é um universo -
ah!

como eu anseio pelo fim de todo o MAL - se a batalha que Ele nos propôs fosse outra, de lanças e espadas - AH! com que furor eu me lançaria! Mas como é difícil combater espiritualmente - como é difícil ser o que devo ser!

Ser um Pássaro Combatente - um pássaro tingido pelo azul do amor de Cristo, banhado no Seu SANGUE

- travar o comba-
te - travar heroi-
camente o combat
e -

e um dia - QUE QUAL CORCEL E DRAGÃO, qual flor e lâmina, poderosamente VEM -
aportar no local de descanso eterno - que eu seja como sou aqui, SENHOR - que eu seja o último -
que eu tenha asas, e reencontre meus amigos
Há alguns anos em http://azulcaudal.blogspot.com
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Noli Me Tangere
terça-feira, 2 de novembro de 2010
da dor
DA DOR ARRANQUE BELEZA
DAS RICAS PALAVRAS QUE VERTE,
TRÊS LETRAS DE TÃO SOFRIMENTO
O CALDO ESPREMIDO DA DOCE PUREZA
BEBA DA SEIVA
NUTRE A PLANTA
ENXERTE
AMARGO PARECE
MAS REMÉDIO É MOMENTO
PASSOU É ALÍVIO E APRENDE
AQUELE QUE VIVO SE ERGUE
NÃO AMIGO, NÃO SE PERCA
ERGA A CABEÇA
A FACE OFEREÇA
DA DOR NOVAMENTE VIRÁ A BELEZA
SÓ SABE QUEM FOI AO LIMITE
SÓ FICAM OS FORTES
QUE FRACOS DISSERAM
SOU FORTE SOU SÁBIO E ISSO ADMITE
SÓ NÃO ESTOU, RESTOU-ME O QUE DISSE
PALAVRAS QUE UM DIA
DA DOR ME MOLDOU
ESPREME, E A DOR NÃO RESISTE
DO AMARGO DO FEL, A ORDEM DO CÉU
QUE PRA TI ELA ENTREGA
É O MAIS DOCE MEL QUE EXISTE
Camilo Borges
Para o início de uma Ficção (pois o dia é de Finados a dor é grande eu estou sozinho e preciso Senhor, fugir para Aldebarã)
(essa história continuará um dia?)
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Teólogo não...

Teólogo não cheira, discerne fragrâncias.
Teólogo não toca, é tocado (em diversos sentidos...)
Teólogo não respira, transpira doutrina.
Teólogo não tem depressão, tem opressão mesmo.
Teólogo não só admira a natureza, mas descreve a Criação.
Teólogo não elogia, mas louva e glorifica (a Deus).
Teólogo não tem reflexos, tem sonhos e visões.
Teólogo não facilita discussões, promove a comunhão.
Teólogo não admite algo sem resposta: diz que é bíblico.
Teólogo não fala: prega e evangeliza.
Teólogo não pensa: medita.
Teólogo não toma susto: se escandaliza.
Teólogo não chora, se derrama.
Teólogo não espera retorno de chamadas, espera respostas de oração.
Teólogo não se apaixona, atende ao clamor da carne...
Teólogo não perde energia, renova as forças em Deus.
Teólogo não divide, multiplica os pães.
Teólogo não falece, sobe ao lar celestial.
Teólogo não beija, oscula.
Marco A. C. Rosa
via http://www.portodopoente.blogspot.com/
domingo, 24 de outubro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
PAX MULTI MAX
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
NO PARAÍSO
“no Paraíso, estive à beira de todas as cores
quando as manhãs acordaram nos meus olhos”
J. T. Parreira, “Expulsão do Paraíso”
Percorridos todos os limiares
e arestas negras, as artérias de granito
em vez da ondulação dos teus cabelos
trocadas as tuas carícias por um grito
culpados de todas as traições
de nos acolhermos ao colo de um pai estranho
extraviados da sabedoria de todas as cores
que falavam das manhãs acordadas de antanho
esquecidos das brisas lentas
das conversas sob as árvores ao fundo
da tarde, restou-nos a sombra do teu vulto
projectada como noite sobre o mundo
Mas na tua carne e no teu sangue
rasgaste para sempre a distância a frio
depusemos então as saudades à soleira da porta
reaprendemos então a alegria da Tua voz de rio
Rui Miguel Duarte
7/10/10
Publicado ineditamente em Poeta Salutor
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Um poeta pára de escrever

amadureceu as vestes
onde poderão os pássaros encher
as mãos dos homens
do mistério das asas
onde poderá crescer o grão
do trigo debicado pelo vento
que é a ondulação
do mar nas searas
Se o poeta parar de escrever
o rebanho dos homens
adormece e sonha paredes em branco
sem o lirismo de uma janela
O poeta não depende do sol
nem do atavismo de estrelas
no seu sangue, o poeta nasce
de si mesmo, se mesmo se exilar
continua a ter cânticos como lábios
O poeta se parar, escreve
nos seus olhos com as lágrimas.
Um incêndio em Alexandria, e duas ressurreições
Na mesa do Café
(por quantos anos eu sonhei
Com este fútil prazer intelectual,
Sentar-me à mesa de um Café e confabular)
Você transpira uma verdade ríspida,
Um transpirar que se solidifica,
Se doloriza em palavras:
“Não se poderiam escrever
Livros sobre a Queda;
Todos os livros são sobre a Queda.
Os livros existem simplesmente por que
Um dia em Adão todos nós
Fomos derrotados.”
Silenciamos por 30 segundos
(e há visões interiores de devassadas
estantes, e há amor em nossa amizade)
E eu concluo:
“Avancemos pois sem embaraços
Para Aquele único que realmente
Tem algo a dizer,
Aquele que projetou-nos os corações
Para que fossem as tábuas bastantes
E únicas
De Sua escritura.”
Ora vem, Senhor Jesus!
Sammis Reachers
sábado, 2 de outubro de 2010
Sob um novo Amanhecer
domingo, 26 de setembro de 2010
O BOM PASTOR

O Bom Pastor é aquele
que conhece as quatro estações
das ovelhas
conhece a espessura da sua lã
e sabe que esta se no Verão lhes sobra
no Inverno não lhes calafeta
todas as portas e janelas da pele
ao frio
O Bom Pastor
conhece os azimutes todos
dos caminhos bravios das montanhas
onde habitam todos os caules
que lhes servem
de alimento
no cajado do tempo
na vara das estações
cada uma com o seu açoite
cada uma com o seu consolo
conhece-lhes os esgares do céu
de que boca de floresta
de que toca da noite
espreitam quentes os focinhos dos lobos
O Bom Pastor
é aquele que canta um canção
de amor à lânguida flauta
para as suas ovelhas
que lhes oferece no flanco
moribundo
um redil para seu abrigo
no cajado do tempo
na vara das estações
cada uma com a sua morte
cada uma com a sua vida
Rui Miguel Duarte
19/09/10
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
ELIAS

Quem está na montanha vê as coisas de cima
e a roupa do corpo parece-lhe durar
para sempre imune aos temporais
e ao alvoroço vacilante da multidão
quem está na montanha
toca com a ponta dos dedos
nos lumes do céu
e maneja mais destramente
o trovão, a majestosa imponência
dos dedos de Deus
quem está na montanha
de um gesto
incendeia o altar do sacrifício
e jorra o rio
na água límpida das pedras
quem está na montanha
domina as artes do discurso
é mestre de ilusionismo bobo de feira
tratador de ventos terramotos fogos
doutor da mais cristalina sabedoria
quem está na montanha
é paladino e chanceler da justiça
da nação
quem está na montanha
da montanha pode cair
e só numa gruta abscôndita na alma
pode escutar o sussurro
o harmonioso murmúrio
da voz de Deus
Rui Miguel Duarte
12/09/10
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Cântico dos Hebreus no Egipto
o Teu Nome,
dançamos ao estalo do chicote,
endurecemos a lama
com a tristeza nos pés, pese
embora o nome
que nos deram, abre
o caminho entre as estrelas,
põe o Nilo a regar as raízes
contra a fome,
e nós aqui, ainda sem sabermos
o Teu Nome.
Inédito de J.T.Parreira
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Um Funeral Romano
terça-feira, 7 de setembro de 2010
PROCURAMOS UM DEUS

"O reino dos antigos deuses não resgatou a morte / E buscamos um deus que vença connosco a nossa morte"
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Senhora da Rocha"
Há manhãs que acordam nos rostos
opacos e escuros das tempestades
para nosso afrontamento, e que assim
nos conduzem a quebrar a aliança
que nos liga às coisas
à realidade
a estilhaçar o fio de prata
que nos liga ao corpo, ao chão fremente
mas tudo se pode afundar no mar
é então que sacerdotes de um culto estranho
nos aproximam do peito as facas
igualmente escuras e opacas
e no-las apontam com rigor ao coração
e nós derivamos o olhar, o clamor
para os recintos rasgados na terra
para os círculos dilacerados no céu
em demanda no voo das aves
de um olhar fresco dos deuses antigos
de uma voz que se fizesse ouvir
na vibração dos ares
nas paredes poliédricas de templos de seda
procurámos o reino, o lugar de repouso
a casa à beira-mar
mas nada nos resgatou da morte
nada desviou a sombra da faca
da aorta, para longe da boca do medo
o reino dos antigos deuses
não chegou ao nosso meio
porque era vazio e frio de granito
e quanto se exaltou o vento
assim se foi
e sem saber sabíamo-lo: buscávamos um deus
que transpusesse as paredes e o espaço
que morresse connosco a nossa morte
nos secasse o rio que dos rostos
nos colos das manhãs ainda caem
e nos desdobrasse as asas
da sua vida
Rui Miguel Duarte
04/09/10
SIMÃO DE CIRENE

“Quando o levavam, obrigaram um homem de Cirene chamado Simão, que vinha do campo, a carregar a cruz de Jesus às costas e a seguir atrás dele.”
Evangelho de Lucas 23,26 (versão A Bíblia para todos)
Simples homem da terra,
tisnado e áspero como os bois
irmãos do arado
o teu braço,
que antes se habituara
a quebrar na enxada
outro braço agora, de soldado
amante de sangue
ignorante das tuas horas
nesta hora ignaro
de demente vingança
prende e esmaga
braço por braço
ombro por ombro
sobre as tuas costas
faz poisar o peso de pena
de um condenado
abate-se a canga do céu
despojado de estrelas
a cruz toda do mundo
RUI MIGUEL DUARTE
29/08/10
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
PÓ
por tão reiteradas vezes
que sou um homem insuportável
Pó embaraçado em pó
sou, espectro sem nome
sem nome
sem nome
sem nome
Já morri
pelas próprias mãos de meus aliados
Deus estranho, Deus que se esconde
Deus que ama até as enésimas potências
Nada tenho além de Ti
Amanhecer
S.R.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Arte Poética
domingo, 29 de agosto de 2010
A História se Repete
sábado, 21 de agosto de 2010
Salmo 122, inédito de J.T.Parreira

de alegrias, em que entro sem manto
nem glória sobre os ombros
a casa é apenas o que
meus olhos vêem
e o meu hino ergue
De dentro da casa
saem o dia e a noite, o céu
não é o que vemos azul
ou intangível negro
Alegrei-me quando me disseram
vamos à Casa do Senhor
construir as paredes
com nossos corpos
o tecto
com as imagens que estão
no nosso olhar
Alegrei-me quando de um golpe
a Casa do Senhor
escorou minhas ruínas.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
A.D.D.
Em face à viscosa belicosidade do mundo
(quando respondo mal com mal)
blindo meus poros com lâminas
e sou o primeiro dos mutilados, Senhor,
o 1º dos Andarilhos Despedaçados pelo Desamor
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Homenagem a meu pai em seus 86 anos
De Fabiano Medeiros (1989)
sábado, 14 de agosto de 2010
ESTRELAS

"Gosto muito mais /De olhar as estrelas / que de assinar uma sentença de morte"
(Velemir Khlebnikov)
Gosto muito mais
de olhar as estrelas
o meu olhar bem sabe
onde se quer perder
no pontilhado do céu, no lustro dos astros
que de assinar uma sentença de morte
a minha mão bem sabe
o que escolheu,
com que lustrar
e pontilhar a folha branca
se estou só, se o ódio
acomete com a sua asa de pedra
não cedo
que murmure
que impetre o ofídio morte
ao meu semelhante
viro-lhe as costas
da mão e da face
a mão não pode escrever outra coisa
senão o que os olhos vêem
é assim que é
como poderia suportar a perda
de uma das estrelas
do meu firmamento?
de uma só, por mais fosca que seja
a sua luz
vê-la cadente seria matá-la
e isso eu não faço!
13/08/10