“… A golpes de paixão, tento passar…”
Miguel Torga, “Emparademento” (in Orfeu Rebelde)
Emparedado tentei
já desfazer as cadeias
que me puseram no degredo
as mãos e os pés
estão unidos com os ferros
e transmitem à boca o pedido
de um grito
que a noite eleve
para lá das grades
ao terceiro céu, e que
me traga a frescura do consolo
pois sei que as cadeias não são negociáveis
para os que seguem Cristo,
nem tão pouco feitas perpétuas
ou elas cedem, ou o muro cede
doem afinal ainda menos
do que o desespero
de se terem incrustado
nas mãos e nos pés,
do que um destino tumular
das cadeias do meu avesso,
que me esmurra
como um doido varrido e que
a golpes de paixão, tento passar
é aí, no recesso
que mais emparedado estou
por durante um minuto
ter desaprendido
de cantar
16/11/10
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