quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Atrasado


Carlo Carrá, O Cavaleiro Vermelho
Atrasado

Tenho pressa
De nunca mais ter pressa
Pressa de paz

Corro desde a 1° vez
De shopping centers e afetações
E são milhares deles
Em meu circuito,
Meu circuito-dia

Os ônibus me levam
Para baixo meio e cima
E nunca vou a lugar algum
Mas corro como corro
Corro como numa tela
De Carlo Carrà

Fujo
De onde Morpheu recita
Todo o léxico do inferno
(dito poema) em meus ouvidos
Ao som de Radiohead

Corro com tudo o que posso
Com minha perna quebrada
De quando caí do teto de casa
Com o sedentarismo que me combate
Corro com minha vesícula extirpada

Corro para o Dia
Sem afetações e shoppings centers
Corro para minha cadeira cativa
No estádio celeste
Antes que algum bem-intencionado irmão calvinista
A ocupe desde sempre
(‘pardon, monsieur, mas
Este lugar está reservado desde a fundação de tudo’)

Corro em direção ao Colapso
Desta minha carne
Com minha Bíblia decomposta
Em 30.000 filipetas
Que distribuo, gratuitos ingressos
Para o Pai de todos os Espetáculos,
A presença ante a eterna estréia
Do Coro Celestial

Corro do Pecado e da Morte
E do Inferno

Heróico em minha irrelevância,
Marcho sobre a cabeça de todos eles
Em meu caminho

Eu sou Ulisses e Sansão,
Davi e Tupac Amaru,
Tiradentes e Ben Gurion
Sammi Maluco da Beira Rio
Que voa em direção a Cristo

(e) Eu tenho pressa→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→→

Sammis Reachers

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