quarta-feira, 14 de setembro de 2011

ESCONDO-ME, poema de Joanyr de Oliveira

Diego Rivera: Construção do Palácio de Cortéz (detalhe)


Escondo-me de Hernán Cortez
(como os astecas: súditos e reis),
dos bacamartes de Espanha
que emergiram sorrateiros.


Escondo-me da fome de esmeraldas
que bebeu rios de sangue
nas veredas do Anhanguera.


Com os escravos brancos
daquelas guerras antigas,
com os cativos soluçantes
(ah, os zonzos navios negreiros),
vou estendendo meu grito
nos subterrâneos do dia.
Com os pássaros enlouquecidos
e os nativos do sul,
escondo-me de corpo inteiro
- antes da vinda do Sol –
da ordem unida dos “marines”,
e das nuvens de napalm
a apunhalar as alturas,
e das nuvens de napalm
a incendiar o galope
dos meninos amarelos.
Escondo-me dos tanques vermelhos,
com a grande estrela do pânico,
nos brancos portais de Praga.


Escondo-me das mãos
que mataram as canções longas
do poeta Federico,
das baionetas noturnas
que assustaram toda a ilha
e os sóis de Pablo Neruda.


Escondo-me das mãos ainda
que escrevem com cassetetes
a suja palavra: “apartheid”.


Escondo-me dos que me exilarão
de itinerários antigos,
se barrigas indiscretas
roncam seu pleno vazio
e os roncos fendem meu sono.


Escondo-me com meus irmãos
dos loucos tecelões da noite.


Joanyr de Oliveira
in Tempo de Ceifar (Thesaurus Editora, 2002)

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