quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sobre o efêmero e o eterno


Sombras — meu cenário

Caiu-me esta sombra n’alma,
deste teu lúgubre cinza azul,
deste teu brilho opaco de lua que se escondeu,
destas tuas folhas recumbentes
emurchecidas
desistidas,
tuas ondas serenamente apoquentadas.

E desta falta deste sol
que não te brilha fiel,
e desta tua soturnidade
a velar telhados e lados,
a enegrecer a paisagem,
a refletir-se nas águas...

Transmitiu-me à alma
a fatalidade que me espera
a efemeridade da boniteza
a inconstância dos seres.
A cena triste das embarcações
abandonadas
ao longo do percurso
ao longo da vida.
Uma angústia de quando se desistiu.
O desaponto de quando se tentou.

Cai-me, contudo, condizente,
ressoante,
inefavelmente
significante...

Um eco que somente se cala
com o poder do Eterno Amor.

De Fabiano Medeiros (1987)

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