segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Chegou o Menino


 
Veio de longe, chegou o Menino que veio de longe
do ventre da mulher. Chegou um homem
que pelo frio do estábulo gemeu
as sílabas profundas de um vagido


Chegou um menino
que deslocou o centro do céu para o mundo

Chegou de longe Deus, a carne nua
com um coração humano, igual ao meu
igual nas artérias e nas veias a qualquer judeu
e com deltas
onde o sangue desagua.

18/12/2013

© João Tomaz Parreira

domingo, 22 de dezembro de 2013

No primeiro natal



por George Gonsalves

No primeiro natal
a luz não era de neon
e também não piscava, 
mas, oh, como brilhava

Não tinha muita cor
mas grande era o resplendor
simplesmente porque
vinha da glória do Senhor

No primeiro natal
instrumento não se viu
nem apresentação de coral
mas cânticos sublimes fluíram
de uma milícia celestial

No primeiro natal
ninguém comprou presente
nem tampouco recebeu
mas todos foram agraciados
com Jesus, o Filho de Deus

Agora, esperamos
bençãos eternas no final
isso porque, graças a Deus,
houve o primeiro natal

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

UM SALMO 23 DO SUL



Para a minha Mãe ( Sousel /Alto Alentejo, 3/12/1922 - )



Mesmo aqui na imensa fragrância da cor
amarelo-laranja


O Senhor é o meu pastor, rodeia-me
de felizes papoilas e do odor

A estrume fresco, e só o assobio do vento
sobre as águas cálidas já me dessedenta

Transbordam-me dos olhos as distâncias
enche-me da sua presença

O arco das minhas costas, levíssimo
com o seu olhar sobre mim

Não me persegue a surpresa da morte
durmo sob a minha sombra, num alto monte.

3/12/2013
© João Tomaz Parreira

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

fragmentos

Pedaços dos que não tem pedaço
Não quero ser universal
Tolstói! dores em minha aldeia!
Há ex-meninos, ex-homens
pedaços dos que não tem pedaço
Onde nas praças há um exército
dormindo em caixas de papelão
Onde há um aviso: cuidado frágil
Não é sátira nem virtual
Sísifo global...
Feridas em minha aldeia
O trinômio hoje é outro: guerra,droga e fome
Estamos na era das chacinas
Pensamos muito... porque plantar árvore
se não vemos seus frutos?
Porque ensinar meninos se não vemos homens?
Em nossas praças tropeçamos em pedras
Estamos mumificados em nossas teorias
Seres franzinos juntam latinhas,elas
se transformam em pão,pó e pedra
Não há tempo, era da velocidade
Não se brinca, não há sorriso
Há dias que não somos capazes
Voltemos amanhã, será que haverá?
Nos falta continuidade...
Quem irá viver a sombra do que plantamos
Se é que plantamos?
Dê seu pedaço a quem não tem pedaço
Deixemos nossas redes virtuais
Precisamos pescar homens
Mesmo na ausência do mar
Ancaremos nosso barco no céu
Há vidas em nossas portas
Estamos afetados e infectados
Já dormimos por demais
Há um inverno aqui dentro
E mais frio lá fora.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Pés Que Trazem Boas Notícias, poema de Elio Roldan Anderson



Como são formosos, os teus pés,
missionário, que veio me falar do Evangelho.
Mesmo com essas feridas, cicatrizes e deformações
Os teus pés são muito bonitos.

Foi maravilhoso vê-lo chegando,
dolorido, o corpo exausto,
alegria imensa,
trazendo a notícia...

- Jesus nasceu,
- Jesus morreu,
- Jesus ressuscitou.

E eu, naquele dia, ouvindo mais uma vez essa notícia, 
pus-me a cismar:
Ah, eu não cria, eu não queria acreditar que Jesus, 
o Cristo, é Deus, 
e morreu em meu lugar.

Imaginava no coração o que eu havia aprendido
Achava que eu é quem pagaria por tudo o que havia vivido
E que não havia outro jeito, e, com tudo o que eu tinha feito...
Como é que eu iria pagar?

Imaginava que Deus fosse apenas uma força enorme,
Nunca uma pessoa; e se o fosse, como é que me veria?
Olhar para mim, me amar? Impossível, eu garantia.
E assim eu persistia, vivendo como um verme

Depois do que você me disse, eu fiquei preocupado
Ajoelhei-me, sozinho, em um banco apoiado.
E, na capela vazia, comecei a falar...

“Jesus! Se você é Deus, como me diz esta pessoa,
Eu te peço, me perdoa se não consigo acreditar”
E ali, ainda prostrado, as lágrimas a correr,
Comecei a falar de mim, e tudo eu lhe falei

Falei dos meus desacertos, e dos sonhos que vi morrer,
das tristezas, desenganos, sobre nada eu me calei
Falei do mal que fiz às pessoas, e a quantos decepcionei...
Falei da minha família, daqueles que abandonei

Jesus! Se, de fato, tu és Deus, como dizem estas pessoas
Revela-te, me toca!  Renova a esperança em mim.
Eu preciso ser tocado, curado, perdoado, aceito,
Já não creio mais em mim... Só tu podes dar um jeito.

E, à medida em que falava, eu o sentia mais perto,
E de repente, todo aperto, que eu sofria, se foi
Fui inundado pelo amor que de Jesus emanava
Diante dele eu chorava...
Foi assim que o encontrei.

Tudo mudou então, e nada mais eu temia
Seu sacrifício, que envolveu tanto sofrimento,
Não foi só para aquele momento, mas foi eterno, universal.
Morreu pelo ser humano de qualquer época ou lugar,
E, mesmo tão diferentes, por Sua morte, nos tornamos iguais.

Renova tua esperança, pois existe uma saída...
Estou contigo, meu filho, você não precisa temer
Apenas creia, sossega, renovarei tua vida
Vou curar tuas feridas, você não precisa sofrer

Aquele foi o início de uma vida transformada
A esperança renovada... Agora eu já tinha a paz.
Jesus abriu os caminhos, e mostrando que me amava
Me deu o que eu precisava, e hoje eu não choro mais.

Obrigado, missionário,
Evangelista, pregador
Que Deus abençoe tua vida
E retribua tanto amor.


“Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina! “

Isaías 52:7

Visite o blog do autor: http://velhopescador.blogspot.com.br/

domingo, 10 de novembro de 2013

VIA SACRA

VIA SACRA

                      …… Só vou por onde

Me levam meus próprios passos
José Régio, “Cântico Negro”


Há um caminho por onde vou
e um caminho por onde não vou

pelos olhos doces da legião
pela inquietação segura dos amigos
que tentam dizer que vá por aí
não vou, por aí não vou

um rito sobre as pedras,
o meu caminho é aquele
em que os pés marcham descalços
e se sujam, bastante tendo por fardo
a penumbra dos homens
o caminho em que o pó é feito de arestas

por aqui me levam os meus passos,
quanto mais indecisos mais firmes,
pelo húmus lamacento é que se alevanta
o firmamento

Rui Miguel Duarte
11/11/2013


sábado, 9 de novembro de 2013

"O amor de Cristo nos constrange"








Eu que amei com verdadeiro amor a mulher
Samaritana e aquela que partiu
E derramou o nardo puro no meu corpo e suavizou
Com os cabelos o cansaço dos meus pés

As crianças que me seguiam de longe na sua pequenez
E não cabiam nos altivos olhos das multidões
Eu que as amei com amor verdadeiro e quis salvar
Os homens dos dias implacáveis da ira
Azular corações com a profundidade dos céus
Tive que apertar nos dentes as dores
Atrozes dos cravos nas mãos e nos pés
E dos espinhos
Da coroa que me rodeou a cabeça.


9/11/2013
© João Tomaz Parreira

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Sem Sentido

Uivam as cidades,gemem os homens
Serpentes ardentes voam no asfalto
Assolação da destruição!
Uivam todos,soberbos e tiranos
São horrendos nossos dias
Um bloco negro de já havia em nós
invadiram as ruas
Feito língua de sapo
Contida quando alimentada
por roupas de marcas
Exposta quando busca seu mosquito
mau por mal
Não mostram suas caras
Não é preciso
São pelos frutos que se conhece a árvore
Uivam as cidades em busca de um culpado
Os homens escondem seus rostos
"Se me ouvires comereis o melhor da terra"
Coração negro, face escondida
Black bloc, tênis negro da Nike
Não haverá mais cidades
O mal tornará estopa
Sua obra faísca
Ambas irão arder
Como fugir? para onde fugir?
Só se vence o mal com o bem
Isto é para White bloc
Dos que não escondem suas faces

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

TE DEUM




“Not because of victories
I sing”
Charles Reznikoff



Não canto por causa de victórias,
tenho tido poucas,
mas pelo brilho do sol que nasce
para todos os olhos, que pode cegar
de beleza todos por igual,
louvo por causa do que a brisa dá,
movimentos graciosos
às flores, na primavera frágil.
O meu hino não é pelas minhas vitórias
mas pelo meu dia de trabalho feito
ó Deus, até entre as ruínas.

5/10/2013
© J.T.Parreira

("Ruinas de Eldena", 1825, Caspar Friedrich)

terça-feira, 1 de outubro de 2013

INSTANTE


Um instante é eternidade para Ti, oh Deus!

Em um momento apenas
crias a luz, afastas as trevas
redimes o condenado, libertas os cativos
derramas água sobre o sedento
secas as lágrimas mais doloridas
trazes alegria ao que não mais sorria

Num instante apenas
escreves o poema mais sublime
e esculpes a mais bela obra
Ossos secos revivem
e o mar vira caminho para quem amas
Os mortos voltam a falar
e os vivos emudecem

Numa fração de tempo,
Oh, majestoso Senhor!
O que não era
vem a ser




quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Considerabit Parabellum

© Jindřich Štreit

Sentar-me no banco 023 do Campo de Santana
observar as cutias equilibrando-se sobre duas patas
para roer amêndoas ou um mapa do céu
que algum apressado estudante deixou cair

Pensar em você, Noivinha de Cristo,
escrever o mais lindo poema de amor
de toda uma década, de toda esta
camonicamaleônica língua

Mas não; e se não posso tê-la, que a Literatura
não me possua o poema, que ele morra arquétipo,
abortado em mármore na tumba
das perfeições platônicas.

Os Imperativos Morais, esses radiosos
demônios concebidos na Luz,
a tudo manietam-me,
e dizem
resista soldado
        combata soldado
morra combata resita
combata morra morra

Estou morto, cães de guarda,
sou um de seus santos, sou
uma sua besta de carga.

Teus olhos estelares,
ó Princesa do Planeta Koryander
são a magnum opus de Cristo,
sóis concentrados cujo fogo
queima sem arder
abrasando até as cinzas de cinzas de cinzas
de meu coração,
como quem chama Lázaro para fora...

Gosto de quieto observá-los
como um iogue observa uma mandala
em busca de libertação, de samadhi
ou como um exausto soldado de Cristo
observa todo o esplendor do Fim
deste sistema iníquo de coisas
              que nos separam,

ó grande apocalipse meu.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Judas Iscariotes como costumava ser






Judas Iscariotes continua deste lado
dos nossos olhos
procura o melhor ângulo da traição
a esquina da cilada
no nosso nariz o seu olfacto
avalia o perfume dos unguentos
Judas Iscariotes continua
a sentar-se deste lado e estende as mãos
para apalpar o amor da raiz
de todos os males, e Judas continua
a usar a sua voz nocturna
para esconder o beijo mortal.

26/8/2013

© J.T.Parreira
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