terça-feira, 1 de outubro de 2013

INSTANTE


Um instante é eternidade para Ti, oh Deus!

Em um momento apenas
crias a luz, afastas as trevas
redimes o condenado, libertas os cativos
derramas água sobre o sedento
secas as lágrimas mais doloridas
trazes alegria ao que não mais sorria

Num instante apenas
escreves o poema mais sublime
e esculpes a mais bela obra
Ossos secos revivem
e o mar vira caminho para quem amas
Os mortos voltam a falar
e os vivos emudecem

Numa fração de tempo,
Oh, majestoso Senhor!
O que não era
vem a ser




quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Considerabit Parabellum

© Jindřich Štreit

Sentar-me no banco 023 do Campo de Santana
observar as cutias equilibrando-se sobre duas patas
para roer amêndoas ou um mapa do céu
que algum apressado estudante deixou cair

Pensar em você, Noivinha de Cristo,
escrever o mais lindo poema de amor
de toda uma década, de toda esta
camonicamaleônica língua

Mas não; e se não posso tê-la, que a Literatura
não me possua o poema, que ele morra arquétipo,
abortado em mármore na tumba
das perfeições platônicas.

Os Imperativos Morais, esses radiosos
demônios concebidos na Luz,
a tudo manietam-me,
e dizem
resista soldado
        combata soldado
morra combata resita
combata morra morra

Estou morto, cães de guarda,
sou um de seus santos, sou
uma sua besta de carga.

Teus olhos estelares,
ó Princesa do Planeta Koryander
são a magnum opus de Cristo,
sóis concentrados cujo fogo
queima sem arder
abrasando até as cinzas de cinzas de cinzas
de meu coração,
como quem chama Lázaro para fora...

Gosto de quieto observá-los
como um iogue observa uma mandala
em busca de libertação, de samadhi
ou como um exausto soldado de Cristo
observa todo o esplendor do Fim
deste sistema iníquo de coisas
              que nos separam,

ó grande apocalipse meu.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Judas Iscariotes como costumava ser






Judas Iscariotes continua deste lado
dos nossos olhos
procura o melhor ângulo da traição
a esquina da cilada
no nosso nariz o seu olfacto
avalia o perfume dos unguentos
Judas Iscariotes continua
a sentar-se deste lado e estende as mãos
para apalpar o amor da raiz
de todos os males, e Judas continua
a usar a sua voz nocturna
para esconder o beijo mortal.

26/8/2013

© J.T.Parreira

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Reino



Soldados cuja soma
não completa um soldado
dos tais é o Reino dos Céus

por tais
um Deus fez as vezes
no da Morte abraço

miseráveis miseráveis
tão sobremaneira
miseráveis

que nada a fazer,
ato algum,
senão amá-los.

Sammis Reachers

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

À TARDE


“La pena de la tarde estremece a mi pena”
Federico García Lorca, “Meditaciones bajo la lluvia”

à tarde mesmo ao fim
a voz procurava o alívio
da pena sobre o tremor da pena

as árvores em que a sombra nasce,
a voz, mesmo
no fim do jardim
da tarde que estremece
no gume, há a pena
à qual tudo foi destinado
estremecem os olhos os ouvidos
a pele da testa lavrada do peso do sangue
que levanta pérolas no cálice,
o cálice bebido na oração redita

nessa angústia
da impossibilidade do salmo
que afague como pena
a dor da angústia do mundo todo

no jardim do Getsémani
o Filho do Homem
é uma ave de penas soltas


Rui Miguel Duarte
08/08/13


sexta-feira, 26 de julho de 2013

DONDE VEM

os anjos bem anseiam perscrutar 
e os profetas nos indícios notificados 
pelo vento até mesmo os poetas ao rasgarem
na matéria pétrea o veio 
da extracção da palavra bruta

ninguém sabe, ninguém percebe 
donde vem de que ponto cardeal,
a não ser as almas simples
as que se encantam dos cantos dos pastores
dos olhos claros das crianças,
ninguém de que lado do monte desce
o orvalho

e é o orvalho que importa
e nos limpa a sede

Rui Miguel Duarte
22/07/13

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Última Ceia



Bebam do meu copo antes que parta
antes que as minhas mãos
se desloquem e fiquem presas
ao silêncio da cruz, falem

à volta da mesa, encham de amor
a minha solidão, porque de todos
os vossos olhos
há um olhar que me fere mais.

22/7/2013



© J.T.Parreira

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Anseios da alma


por George Gonsalves

Preciso do amor que
cure a dor
vença o torpor  
e afaste o rancor

Necessito da graça que
restaura o coração ferido
o espírito abatido
e a lembrança dolorida

Anseio pela fé que
vê o invisível
toca o eterno
e ouve o sussurro divino

Suspiro pela esperança, oh doce esperança,
que enxerga nas densas trevas
canta em meio a chamas
e sorri para a morte

quarta-feira, 12 de junho de 2013

DEUS AMANHECER, novo livro de Sammis Reachers para download gratuito


Amigos, já está disponível para leitura online ou download gratuito, a versão eletrônica de meu novo livro, DEUS AMANHECER.

As 127 páginas deste livro reúnem uma seleção de textos escritos desde minha conversão, em 2005, até aqui. São diversos textos inéditos, somados a outros publicados apenas em blogs e redes sociais, e que configuram o corpo principal deste Deus Amanhecer, acrescidos de uma antologia poética, com textos selecionados de meus quatro livros anteriores (livros que circularam apenas como e-books): Uma Abertura na Noite (2006), A Blindagem Azul (2007) CONTÉM: ARMAS PESADAS (2012) e Poemas da Guerra de Inverno (2012), além de poemas publicados na Antologia Águas Vivas I (2009). 

O livro conta com prefácio do querido poeta lusitano João Tomaz Parreira.

Para leitura online ou download pelo Scribd, CLIQUE AQUI.
Para download pelo 4Shared, CLIQUE AQUI.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A Verdade



A vida não é alegre
Ainda não somos capazes
Há ameaças...o caos
Não nos rendemos
As explicações divina
Nietzsche e seu deus
Você tem razão...
Alias ele nunca existiu
Morreu....o homem
E o super-homem
Estamos procurando
Onde está, onde atua...?
Nas casas, nos becos, nas ruas ?!
Feito pela mãos dos homens
Tem boca não fala...
Tem ouvido não ouve
O deus de Nietzsche
Não fora encontrado
A nanotecnologia
Enxerga o minúsculo
O super-homem
É muito raquitico
Estamos com dores
Estamos com medo
Perdemos os anéis
Perdemos os dedos
Precisamos sobreviver
Os dias são negros
Precisamos dizer não
Indefinidas...teorias se repetem
O que mudou?....nada
Há algo definido
Inteligente Nietzsche
Onde estava seu saber
Em seu iluminado ateismo ?
Algo que não envelhece
Não morre
Feito água
Feito luz
Não criou teoria
Ele um humilde homem
Morreu por amor
A verdade definida
Imutabilidade
Encontrar saída?
Não carregue suas mochilas
Teorias...sofismas
Deus não morreu.

Flanar


Quero flanar
Ser uma pena
Levado ao vento
Sondar o precário
Nosso outono trágico
Ausência de primavera
Folhas e homens ao chão
Tudo que não sei
Eu sei... aprendi nas ruas
Flanei  nos becos
Nos  labirintos dos guetos
Embaixo das pontes
Tropeçam os homens
Em pedras, pobres zumbis
Precariedade extrema
Flagelos sem opção
Entre lama e sangue
Flanei a conversa 
De uma criança... 
Marcou-me a sua alegria
Feriu-me sua dor
Sem confidência, sem fingir
Domingo vou passear
Vou ao presidio
Lá está minha mãe
Ela fez o que não devia
Em meu flanar
Eu os vi  bebendo refresco
Com bolo de fubá
Entre os muros cinzentos
Os guardas não podiam conter
Lágrimas e risos de felicidade
A meiguice de uma mãe que sofre
Voz embargada, sussurros...
Não pegue no que é do outro
Fique livre... siga limpo...

Água



O sol sempre... não faz sombra
Os dentes de brasas marcam
No chão rachado rastros de peixes
O mandacaru esconde sua flor
O gado bêbado por não beber
No céu sinal de fogo
Água ausente ... lágrimas
No estradão barrento
A miragem de umas gotas
Água... será água?
Promessas, rezas, ladainhas
Linguas secas clamam
Banho é luxo, me de migalhas
Gotas, dois dedinhos de água
O sol não se vai
Meu boi se foi, morreu torrado
Sertão sua cima
Morte ao homem
Quem se importa?
Sertão sem pão
Sertão sem feijão
Minha esmola de sempre
Bolsa família dos secos
Nada... nada de molhado
Sertão sua cima
Chuvas de promessas
Rio de salivas...
A água há de brotar
Depois do carnaval
Restos de uma fantasia
Água... água...
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