segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre os enganos do coração

Espelho religião

Trago ao fundo, pra quem vê,
A tristura que dissimulo,
A perene sensação do que sou.
Ostento, contudo, ao menos perspicaz
A alegria que rotulo,
A fugaz sensação que não sou.
Trago ao fundo pra que vejam...

Levo junto, na fachada,
O incorrutível procedimento,
O que presumo ser e não sou.
Revelo, contudo, ao mais agudo,
O pérfido encantamento,
O terror do que sou.
Levo juntos, na fachada...

Trago e levo,
Ao fundo e na fachada,
O pavor,
O terror,
Dessa farsada...


De Fabiano Medeiros (1988)

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