segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Joanyr de Oliveira: Dois Poemas Para Benjamin Moloise




DOIS POEMAS PARA BENJAMIN

O governo sul-africano é
tão cruel, tão cruel, tão cruel!
(Mamike Maloise, mãe do poeta executado).

I
Um poeta na face da Terra
não é apenas blandícias
no rosto dos montes;
não é apenas silêncio
nas frontes matutinas.

Um poeta na face da Terra
não é apenas metáforas
na boca de anjos;
não é apenas folguedos
na voz dos meninos.

Um poeta na face da Terra
não é apenas cabelos
e folhas na aragem;
não é apenas canções
na alma dos homens.

II
Mãos brancas enrubesceram:
Hoje é dia 18 de outubro.
A pena do poeta tombou
alvejada pelos gumes da ira.
Alô, mártir, adeus, irmãozinho
da multidão soluçante.
Irmãozinho Benjamin, escuta:
pássaros e nuvens comemoram
a chegada, nas asas do vento,
do filho maduro de um povo.
A corda em tuas cordas vocais
não sufocou os poemas.
O sangue do poeta: chamas
no coração de um mar
pretíssimo, mais que a noite.
O relógio da História palpita,
vai detonar-se a si mesmo!
Adeus, adeus, Benjamin Moloise.
Mas lembra-te de voltar, poeta,
quando a liberdade florescer
na pele negra de um povo.

In Tempo de Ceifar

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