terça-feira, 27 de janeiro de 2015

PASTORAL



O bom pastor discerne as minhas pegadas de outras pegadas
Perante o modo como me julga, pouca importa
O tamanho do Oceano Atlântico ou dos Mares do sul
Com suavidade e a dureza
Dos seus ombros, vem ter comigo
Quando alguma coisa me empurra para baixo
Ou quando o medo cresce nas sombras, são suficientes
Os seus olhos sobre mim, são a arquitrave
Que suporta o peso do céu de um dia pleno de sol
Ou de tempestade.

26-01-2015
© João Tomaz Parreira

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A ODE DO PROFETA HABACUQUE




 Ainda que a figueira não perca o equilíbrio
Porque não tem figos, nem as vides mostrem o fruto
Da alegria, ainda que falhe
O azeite nas oliveiras, ainda que a vida morra
No rebanho e o silêncio ocupe o espaço dos currais
Espantar-se-á  o mundo com o meu prazer
Em Deus que fez a minha salvação
E na dádiva incrível de asas de corça nos meus pés.                                  

06-01-2015

© João Tomaz Parreira

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

NATAL

não é quando um homem quiser
o Natal, nem quando qualquer outro homem fizer
quantas estrelas inquietas
seriam necessárias para reconduzir
magos e poetas ao mistério do Conselheiro
na dimensão de pequenas mãos
quantos concertos de anjos
e acordes de flautas de pastores
para acompanharem
os vagidos frágeis de Deus na faringe
de um Menino, Natal

foi quando Deus quis e sonhou
que o Príncipe da Paz fosse menor
do que um rei
foi quando Deus quis que passou
pelo sonho de profetas
um Menino
o Maravilhoso coberto de panos
de linho de rejeição

que um Menino, num sopro único, nasceu
como todos os meninos, que são
o despojo da dor das suas mães

foi quando Deus encheu o tempo
foi então que a palpitação das galáxias
descansou à espreita desse momento
que é o princípio de tudo em flor

Rui Miguel Duarte
23/12/2014

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Poema X, [Ocupou, certa vez, o coração de David]


("Bate-seba no banho", Sebastiano-Ricci, 1679-1734)

(X)

Ocupou, certa vez, o coração de David
Rei, o desejo, pesava bastante o que seus olhos
Viam, no banho Bate-Seba,
A beleza do corpo coberta pela luz
Da seda do crepúsculo.

11-12-2014
© J.T.Parreira

in "Um pouco ao lado das Crónicas dos Reis e de Israel, em preparo)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Deus e o paradoxo

A criação do céu, de Michelangelo
por George Gonsalves


Deus é o primeiro e o último

o início e o fim de todas as coisas

É único, mas trino

Autor e consumador da nossa fé

Habita no mais alto e sublime céu e com o abatido de espírito

Tão grande que nada pode contê-lo, mas encontra-se na menor partícula

Não há beleza para descrevê-lo, mas seu Filho não tinha formosura

Sua morada tem ruas de ouro, mas quando veio ao mundo nasceu em manjedoura

É pleno, mas deseja estar conosco

domingo, 23 de novembro de 2014

ANTES DO SALMO 51 DAVID E NATÃ





Com uma das mãos lavo o rosto
Com a água corrente dos meus olhos
A outra apoia-se no vazio, abraça
A solidão, a sombra do silêncio
Da harpa suaviza o meu coração de pedra
Agora de carne e fogo
Um hissope começa a escrever o cântico
Do perdão a sangue e água, no espelho
Do meu rosto.


23-11-2014
© João Tomaz Parreira



sábado, 20 de setembro de 2014

UMA PALAVRA





    Estamos desprevenidos e uma palavra 
    Que parece não fazer falta, força o tumulto
    Na corrente profunda da alma, paira
    Acima do tempo, uma palavra simples
    Que começa nas franjas do sangue, Mãe
    Como Hoffmann perdido sem reflexo no espelho
    Olho-me e estou órfão
    Agora que a morte cortou o cordão umbilical.


    20-09-2014
    © João Tomaz Parreira



terça-feira, 16 de setembro de 2014

PORCO NOJENTO

“Foi pedir trabalho a um homem da região que o mandou para os seus campos guardar porcos.”
Evangelho segundo Lucas 15:15

é nojento esse porco até à
milésima casa e à milésima
geração de dias
faltam-lhe as subtilezas do alfabeto
declinado às cordas do amor, o velho
abraço à sombra escorrendo
seiva fosforescente da barba
sobram-lhe o nojo o cuspo
o beijo viscoso à procura de uma palpitação
assim nasce e cresce
o porco o nojo o cuspo a que se reduz o corpo
que a alma foi perdida lá atrás
num descaminho de má vida
disseram-lhe que podia beber o pus
pois as bolotas são dos porcos nojentos
e o pão é nosso de cada dia dos ratos
a alma foi perdida lá atrás: pergunta onde?
lá atrás há porcos que regressam ao velho
abraço à sombra que escorre
o sol
Rui Miguel Duarte
12/09/14

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

domingo, 10 de agosto de 2014

Queria escrever...mas a tinta acabou


George Gonsalves

Dentre as folhas que se esparravam pela mesa, peguei uma e comecei a rabiscá-la, tentando definir a Deus:

Imutável
Incomparável
Infindável
Incompreensível
Indestrutível
Inquebrantável
Imbatível
Incansável
Indefectível
 Inefável
 Inominável
Indizível

Queria continuar a escrever...mas a tinta acabou.

terça-feira, 1 de julho de 2014

A FIGUEIRA

“Então Jesus exclamou: «Nunca mais ninguém coma do teu fruto!»”
Evangelho segundo Marcos 11:14
Darás fruto algum dia, ó figueira
gotas de água do fundo da tua raiz
alguma vez nascerá em ti o Verão
haverá um rasto de amor para o meu ardor?
em ti mais não escorre
do que a secura que o livor pôs
na tua mudez tens a morte por rebento
não há sol perante ti, árvore de prata,
mas um apetite de uma palavra uma só
que salve a madrugada da fome da terra
não há nada pronto mas uma vontade
de mãos cheias de sabores vivos
arrancados à conjura do vento e das sombras
porque persiste em ti o Inverno?
Rui Miguel Duarte
02/06/14

sábado, 21 de junho de 2014

A Última Aurora


A Última Aurora

Ela aniquilará todas as precedentes,
ao aniquilar o Tempo,
ao estabelecer Deus-como-aurora

Quando orar esta noite, rogue,
rogue para que a aurora de amanhã seja calibrada
no nível máximo: ARMAGEDOM

que o sol exploda com o dia

para que Ele venha ocupar o lugar do sol.

Sammis Reachers
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