quinta-feira, 28 de agosto de 2014

domingo, 10 de agosto de 2014

Queria escrever...mas a tinta acabou


George Gonsalves

Dentre as folhas que se esparravam pela mesa, peguei uma e comecei a rabiscá-la, tentando definir a Deus:

Imutável
Incomparável
Infindável
Incompreensível
Indestrutível
Inquebrantável
Imbatível
Incansável
Indefectível
 Inefável
 Inominável
Indizível

Queria continuar a escrever...mas a tinta acabou.

terça-feira, 1 de julho de 2014

A FIGUEIRA

“Então Jesus exclamou: «Nunca mais ninguém coma do teu fruto!»”
Evangelho segundo Marcos 11:14
Darás fruto algum dia, ó figueira
gotas de água do fundo da tua raiz
alguma vez nascerá em ti o Verão
haverá um rasto de amor para o meu ardor?
em ti mais não escorre
do que a secura que o livor pôs
na tua mudez tens a morte por rebento
não há sol perante ti, árvore de prata,
mas um apetite de uma palavra uma só
que salve a madrugada da fome da terra
não há nada pronto mas uma vontade
de mãos cheias de sabores vivos
arrancados à conjura do vento e das sombras
porque persiste em ti o Inverno?
Rui Miguel Duarte
02/06/14

sábado, 21 de junho de 2014

A Última Aurora


A Última Aurora

Ela aniquilará todas as precedentes,
ao aniquilar o Tempo,
ao estabelecer Deus-como-aurora

Quando orar esta noite, rogue,
rogue para que a aurora de amanhã seja calibrada
no nível máximo: ARMAGEDOM

que o sol exploda com o dia

para que Ele venha ocupar o lugar do sol.

Sammis Reachers

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O QUE DISSE A CRIANÇA SÍRIA VÍTIMA DA GUERRA



“Quando eu morrer, vou contar tudo a Deus”
pouco serviu Lizt compor
um Rêve d’amour, ou a beleza

das macieiras entre os bosques
do Cântico dos Cânticos
direi que fui um lírio entre os espinhos

Muito pouco valeu o perfume
da noite das rosas de Damasco
para pouca coisa serviu

ter ficado em delírio a sonhar a paz
multicolor dos vestidos
das meninas que jogaram comigo

Vou contar tudo, o que valeu às nossas mães
terem o mel
nos favos dos seus dedos?

Valeu pouco,  à luz que passa
entre as sombras das palmeiras
ficar à roda do meu corpo.


11-05-2014

© João Tomaz Parreira 

sábado, 3 de maio de 2014

EPODO AO SALMO 139

a J. T. Parreira, com amizade, solidariedade poética e votos de saúde


Alguém lá em cima gosta de mim
alguém lá em cima tem colo de ouro
e braços de estrelas
para os meus cansaços

posso estar no chão e os meus pés
pisarem os céus e os ínferos dos mortos
pode não sobrar de mim mais do que
a voz que grita a ocidente e a oriente
e Alguém aí está e gosta de mim

posso não ter mais do que algas podres
em vez de mãos um seixo túrgido
em vez de uma canção que se atira
contra os tremores de ventos e marés

que claro e imperceptível é
que, ao mostrar-se treva luz,
Alguém gosta de mim

Rui Miguel Duarte

03/05/14

domingo, 27 de abril de 2014

Exaltação à Páscoa, poema de Filemon Francisco Martins


Exaltação à Páscoa

Vibrai, ó povos do Oriente,
Cantai, ó povos do Ocidente,
Como canta o coro dos remidos!
Uni-vos todos do Planeta Terra,
Porque o Cristo de Belém,
Depois de palmilhar caminhos da Judeia
E pregar a mensagem de amor por toda a Galileia
Doutrinando apóstolos, fazendo milagres,
Curando enfermos, ressuscitando mortos,
Está vivo!
Ele ressuscitou!

Chorai, Jerusalém, chorai,
Porque matastes profetas,
Porque fostes palco da traição de Judas,
Culminando na morte de um inocente!

Contemplai a paisagem deslumbrante,
Roseirais e lírios dos vales de Cedrom,
Perfumai todos os jardins por onde passou
O suave Rabi da Galileia!

Palmeiras dos campos verdejantes,
Prados perfumados e floridos,
Oliveiras da bela cidade de Jerusalém,
Dos hortos e dos montes de Sião,
Rosas brancas, azuis, amarelas e vermelhas
Que perfumam as margens do Jordão
Todo colorido e em festa,
Porque venceu o escárnio e a zombaria,
Porque ressurgiu da morte
O excelso, magistral e sublime
JESUS DE NAZARÉ!

Esta é a canção de amor, de fé e de esperança
Que se espalha pela Terra.
A contrição dos remidos, a música celeste
Que ecoa nos céus trazendo para o povo a vida!
Vida plena, vida de fé, vida de amor, transformação,
Libertação, porque Cristo vive e reina!

JESUS RESSUSCITOU! ALELUIA! ALELUIA!

domingo, 20 de abril de 2014

RELATO

“Quem acreditou naquilo que ouvimos?”
Livro do Profeta Isaías 53:1

pediram-nos uma palavra 
aberta em melodia que falasse
do drama da alegria

do seu breve trânsito pelos velhos mortos
em que foram decompostas as nossas pobrezas

pediram-nos uma memória,
quente, nova que fizessem acreditar
que a memória é símbolo e é carne

pediram-nos um relato
mais vivo e que mais fortemente
arrepiasse a espinha ao silêncio
do que o próprio evento
que contar o espinho ferisse mais
do que o espinho,
porque a mortalha dele é nossa roupa nova
para dia de festa
e o sangue dele o nosso músculo enxuto
contar quanto a pedra caiu à beira do caminho
diante do clamor das mulheres
quanto o dia em que a noite
foi apenas a preparação da manhã

o que temos é só o que ouvimos
porque Ele retornou ao Pai
deixou-nos, contadores

necessário é: para manter
os ouvidos ouvindo
e em desemparo acreditando

e nós contamos

Rui Miguel Duarte
19/04/14

sábado, 19 de abril de 2014

A Páscoa do Equalizador


Cruz lent'arralastrando-lhe os passos
n'ínvios pedaços do vil
                                 caminho

direção a mais contrária à do ninho
marcha o magro Deus para o antiabraço

espadas, crucifixos passos
abraços cancelados
                        pelo caminho
"jamais o conheci"
diz o covardecrasso

já tristetecida a coroa de espinho
o choro paralisado no angelespaço
veja como vergam suas pernas finas quase as minhas
Deus diminuído em pó no da morte de largo lastro laço

anarcoroado maltraphilos numa cruz embaralçado
veja, eu o martelo
o suspendo, escarro, atravesso.
que eu não sei o que faço
sussurra ágapeado Deus num suspirespasmo


treme a terra. compreende o romano. sorri o anticristo.
morre o Cordeiro para equalizar o Caos & aplacar a Lei.

dentre três dias, anticristo, de baixo para cima
no mural dito ETERNIDADE, estarás crucificado.


quinta-feira, 6 de março de 2014

CONCLUSÃO

“É tempo de concluir; já tudo foi dito.”
Eclesiastes 12.4

De tudo isto a conclusão é: o sol brilha
e não deixa vivalma isenta de meio-dia
a noite consome-nos quando faz assobiar os gonzos
por trás de nós, por trás da memória

a areia devora-nos o rosto, é uma mó
que de tanto moer grão seco quebrou

o coração dissolve-se no vento
sem saber o que o leva às alturas
sem saber se há alturas ou apenas vertigem

de tudo isto, dos velhos que são fortes
curvados, do deserto em que não entrámos
que perdemos na ilusão de ser mar mas que entra
por nós dentro, e nos traga as mãos
ao tanto escorrer

de tudo isto a conclusão
é afinal irrefragável:
teme ao Senhor ama os preceitos dum Pai
a eternidade que são
todas as horas da tua vida de homem,
esta é a tua condição, esta é a tua conclusão

Rui Miguel Duarte
06/03/14

sábado, 1 de março de 2014

O QUE NÃO SE DISSE

Disse quase todas
Só uma palavra é que não disse
Mas brilhava-me nos olhos

Disse quase todos
Os pronomes, só um é que não disse
Mas era uma sombra ao meu lado

No silêncio diz-se quase tudo.


28/2/2014


© João Tomaz Parreira

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O ÚLTIMO CÁLICE

até amanhã
já me basta o vinho de hoje
o mal de cada dia que vem a nós

só o vinho o novo e o velho
de cada hora

até amanhã
quando às estrelas
forem cortados os ventres das uvas

até amanhã
lá no meu Reino
lembrai-vos de mim

Rui Miguel Duarte
18/02/14
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