O mesmo anjo descia
ou era outro
Corria na cidade
a hora improvável
da visita
Os homens informavam
as crianças buliam o pó
de tanta correria
mulheres escondiam no rosto
as emoções mais puras
Um anjo descia
era o mesmo? era outro
no vento irrequieto
sobre as águas
num gesto branco e largo
Para os absortos nada
nem para os solitários
mesmo para os confiantes
da vida sem finalidade
Só os doentes mais hábeis
entravam no torvelinho
das águas lavradas
na velocidade da luz
Um dia o anjo não veio
ou veio tarde, era o mesmo
ou seria outro? Alguém
no entanto que veio
vinha pelo seu pé
e trazia nos olhos toda
a desarrumação do mundo
e vinha com ouvidos atentos
para a hora do milagre.
© João Tomaz Parreira
domingo, 26 de janeiro de 2014
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
A Transfiguração
“Mas ninguém se atrevia a olhá-lo na cara,
porque era semelhante à dos anjos”
Oscar Wilde
Subiu ao monte
a luz velando o rosto e sobre a luz
e o branco dos vestidos
os discípulos se alegraram,
o vento cantava no cume da montanha,
desceu a glória de uma nuvem
e as vozes, que traziam a certeza
da morte redentora, falou-se de cicatrizes
e ouviu-se a voz de Deus, que talvez trouxesse
a neve dos cabelos envolvida em lume.
9/8/2013
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Nos jardins da Babilónia
aprendi a língua da Babilónia
a língua que falam
as árvores
da glória
aprendi como os jardins se levantam
e abraçam o zigurate
aprendi a moldar a lama
e dar-lhe a candura do rio
aprendi a língua da Babilónia
a língua que cantam
sonhos estátuas duras
de profecia
aprendi que o vinho existe
e que se degusta antes de o dia
ter espessura
que se bebe de janela aberta
só
aprendi
onde as ruas
se cruzam
com masmorras as vozes que denunciam
que o banquete dos aromas
vai começar
aprendi e depressa desaprendi
o que tem a Babilónia para eu lhe ensinar?
Rui Miguel Duarte
31/12/13
Assinar:
Postagens (Atom)