sábado, 20 de setembro de 2014

UMA PALAVRA





    Estamos desprevenidos e uma palavra 
    Que parece não fazer falta, força o tumulto
    Na corrente profunda da alma, paira
    Acima do tempo, uma palavra simples
    Que começa nas franjas do sangue, Mãe
    Como Hoffmann perdido sem reflexo no espelho
    Olho-me e estou órfão
    Agora que a morte cortou o cordão umbilical.


    20-09-2014
    © João Tomaz Parreira



terça-feira, 16 de setembro de 2014

PORCO NOJENTO

“Foi pedir trabalho a um homem da região que o mandou para os seus campos guardar porcos.”
Evangelho segundo Lucas 15:15

é nojento esse porco até à
milésima casa e à milésima
geração de dias
faltam-lhe as subtilezas do alfabeto
declinado às cordas do amor, o velho
abraço à sombra escorrendo
seiva fosforescente da barba
sobram-lhe o nojo o cuspo
o beijo viscoso à procura de uma palpitação
assim nasce e cresce
o porco o nojo o cuspo a que se reduz o corpo
que a alma foi perdida lá atrás
num descaminho de má vida
disseram-lhe que podia beber o pus
pois as bolotas são dos porcos nojentos
e o pão é nosso de cada dia dos ratos
a alma foi perdida lá atrás: pergunta onde?
lá atrás há porcos que regressam ao velho
abraço à sombra que escorre
o sol
Rui Miguel Duarte
12/09/14

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